quinta-feira, 19 de março de 2009

Lá está a costureirinha, de olhar vago à janela.
Finge que executa um trabalho muito complicado.
Quem a vê, pensa que pobre alma a trabalhar até tarde.
Fios da noite misturam-se com o tecido que vai descendo entre o tricotar e a lágrima que serve de linha.
Mãos tímidas, desfiam um rosário de amor.
O seu amor está no outro lado da rua, finge que acende a lua que servirá de lâmpada à sua amada.
A costureirinha exibe o que esteve a fazer: remendou o seu coração, um espaço deixou.
A janela move-se, aproxima-se do seu amar.
Vem uma mão que fecha a janela, impõe o bom-senso.
Os dois amantes não mais se viram.
A lua que todos os dias se eleva afirma que a costureirinha não mais cessou de tentar preencher o vazio que outrora deixou.
15 Março 2009

sexta-feira, 13 de março de 2009

A noite traz um seio de fora, não se importa com os demais.
Rasga o céu com uma lua tépida, esbranquiçada, cheia de amor.
Parado continuo neste tentar de um cigarro fumar.
Corre uma leve brisa que me desperta o sentido.
Penso em ti, absorvo a nudez que circula.
Movimento que a estrada tem não incomoda este raciocínio.
Deixo-me ir em lembranças outrora extasiadas, cheias de prazer.
A música jorra em cascata, ouço-a ao longe.
Chamam por mim...
Enlaço o desejo de te amar nesta boca que quer.
O corpo estende-se hirto, esconde-se sob o seio que teima em se mostrar.
Vontade de ter aqui, agarrar nesse fado que trazes e ser a Severa de outra quimera.
Que a noite recolha o seu seio e me deixe na negrura da noite.
Serei o anjo que te fará dormir...

13 Março 2009

terça-feira, 3 de março de 2009

Travo amargo na boca, deixou-me esta noite aquando seu nascer.
Leves pinceladas de sangue brotaram do mar para o céu.
Pensar, penso em ti.
Avisou-me, ela, que hoje não virias. Má, fria e cruel.
Cravou-me esta amargura, lavei o gosto com teu sentir. Sentir distante, virtual, platónico.
Conto as contas do rosário que me puseram nas mãos.
Quem me colocou?
Não te sei dizer. São talhados no mais fino frio.
Gela-me o escrever.
Escultura feita para mim...
Poderão dizer que dramatizo, não faz mal.
Este sentir obtuso, carnal mas tão divinal.
Encerro a cortina do olhar, se não estás que vou eu ver?
Ao menos que este degelo ao me fechar na concha sirva para beijar, lamber as dores que se dilatam.
Paz que sinto, tormento que ronda.
Condão que me foi destinado pelas mãos de uma poetisa.
Esta noite, talvez só hoje não vá por ruas e vielas.
Nada de novo me iria trazer.
O gato que se chega traz-me de beber. É doce, suave tal qual veludo.
Parece teu corpo ao roçar-se no meu.
Vou embriagar-me pensando em ti.
Se conseguir, deixarei o travo amargo no ponto que não colocarei nesta frase...
03 Março 2009