domingo, 19 de setembro de 2010

Annie Lennox - Why?




Teus olhos cor de chuva, puxam-me para a imensidão que os cerca.

Lânguida é a forma que tornam, abraçam e observem as minhas palavras.

Entretenho-me a desvendar enigmas encriptados, distraio-me em teus lábios, sorrir adocicado. Sou manteiga em teu corpo, fogo que explode com teu silêncio.

Intemporal torna-se o espaço, sacio-me em tuas mãos, defines o meu corpo, moldas a minha loucura.

É nesses olhos de chuva que me banho e me deleito com o que dizem ser amor...

16 Setembro 2010

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Ella Fitzgerald - Summertime

A luz que o candeeiro reflecte, pisca como que num código morse. A penumbra já não mata em pequenas porções o tempo. Os ponteiros lutam, descai o dia sob meus olhos, pensamento que te procura.

O cheiro que te aspira num atchim, erguem-se as paredes num todo, toco o betão, estás aí, eu sei. Estás entre tijolos, quero partir as vigas, parte-se o beijo que entre as gretas te dou.

Uma mão, grande, bate-me. Afasta-me do doce, da gula, que pecado tão feio.

Armam-me em poeta de rua, esperam que declame as pedras, as melancias que rolam do corpo da duquesa. As palavras não mentem, menos os dedos, de jorrada divirto o bobo, tomates me atiram.

Saio do palco, a mão tranca-me na cela, a luz que pisca, a ratazana que ri, estando nu crucifico-me na parede.

Palavras que se alojam em mim, anos vindouros será o louco que com as palavras fornicou, quando teu corpo a um toque estava...

13 Setembro 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

miss you like crazy / Natalie Cole

O sol abraça o dia, sufoca-o, lentamente vai falecendo. A noite vai subindo, rasga o céu, jorra leves traços de laranja, rosa, pigmentação que confude os olhos que observam.

Confunde-se um abraço, aperto no coração. Levanta-se o corpo só, lágrimas que permanecem vincadas no rosto.

A cegonha que faz o ninho no fim/início de um precipício, o corpo cai por entre os grãos que se amontoam sobre os pés.

Labareda de dor, queima a alma, destroi o que a mente vai rolando sob um olhar atento.

Não vem a mão aconchegar o peito que arfa, moridela de lábio. Verte-se sangue, quais lágrimas de D. Inês, manto de carmim sob a imensidão da dor.

Prende-se nos dedos o aroma da saudade, eterno sentir que se abateu sobre a criança em corpo de adulto.

Desfolhar do corpo, que importa os que por ali passam, nada vêm a não ser um louco. Salga-se a pele na água, conserva-se as lágrimas que rasgam a face, abre-se o coração.

Lá longe vem um peixe, morde o conteúdo do ser, um ai que acorda a mente, o pesadelo regressou.

Solidão que se senta, a lua que no céu germinou embala os amantes há muito que amou.

03 Setembro 2010