segunda-feira, 21 de junho de 2010

Noite tranquila, peso que aglomera entre o peito. Fardo que do nada veio e em mim se deitou, não chorarei, lágrimas não se deitam em vão.
Vazio, talvez não poderei afirmar o que não sei. Tento apagar o cigarro que luta, ri-se de mim e para mim.
Olho a noite, despida e gaseificada pelos que deambulam em pensamentos irrisórios e quem sabe tão fluentes quanto as palavras que tento escrever.
Imóvel, tento cegar o vaivém de emoções, saltam da pele como quem se depila.
Não sei que fazer, em papel iria transbordar os demais que me lêem.
Não quero incomodar, deixai-vos estar.
São estados de um poeta que tem necessidade de sentir as emoções, procura-as e depois castiga-as por se terem apoderado do seu corpo.
Noite tranquila, atormenta o corpo que se esconde entre uma penumbra.
Restos de um corte que alguém se ajeitou a fazer, não foi propositado nem calculado.
A vida tem destas andanças, teima em brincar com os seres.
Ai de quem diga que nunca se sentiu uma parte do buraco negro que habita o universo, uma parte de mim lá se encontra.
A outra arde no inferno do prazer, explode, queima o que rodeia.
Não quero esta noite tranquila, despejo-a num cinzeiro lambido pelas palavras que nele se deitaram.
Venha o tormento de noites frias, ao menos saberei colocar a manta.
21 Junho 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Não poderás saber o que sei, o que disse, o que direi, seria desfolhar as palavras que estão trancadas.
Não terias sensibilidade, virilidade e até mesmo calor para as entender.
A melancolia que trago está disfarçada de um alegre sorriso que teima em se pendurar nuns dentes que ao longe choram, gemem por mais...
Os olhos que vêm não são mais que opacos espelhos, visão distorcida de algo que vai cá dentro.
Não poderia arrancar e deitar ao vento, perder-se-ia algo grandioso e quem sabe precioso.
Que queres que eu diga?
Nada poderá afirmar, nem na sua forma de hipotética.
O corpo esgueira-se por entre as vicissitudes da vida, baila com o sentir e o desejo. Queima por dentro o pavio que se elevou, o rosário que conto não passará de mudos sons.
Quis eu prolongar o amanhã, mas o hoje ainda não terminou.
Gula do desconhecido, insatisfação do saber e desejar.
Não quererás que te diga o que sei, cá dentro o mar se revoltou e a terra abrandou.
15 Junho 2010

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Arde em mim uma centelha de calor, ardor, durão que se instalou algures no hemisfério norte do corpo.
Será no Equador?
Tanto faz, onde seja, vai e vem como um pêndulo que se dá um toque e só pára quando a lei da física o entender.
Vergonha contida entre um biombo, corpo que desenha no ar gulosos movimentos carnais. Não há espectador, sorriso que se parte em dois.
Lágrima cai no soalho, estrondo que se ouve.
Ninguém acode, que importa?
Nunca ninguém saberá entender, a vida tem destas ironias.
Lânguido é o momento em que o corpo se endireita, permanece no ar o cheiro de algo que poderia ter acontecido.
Timidez há muito que se perdeu na cama, enrolou-se entre beijos e abraços.
Deslizar de gueixa, arrasta-se um perfume, único e sensual.
Sensualidade atrás de lençóis que agora parecem ondas de um mar turbulento.
Treme o corpo, o universo em sintonia. Explosão de estrelas circundam o tecto, vê-se ao longe um cometa. Corpo que se estica, extenuante, expectante por mais e mais.
Sobra a saudade e vontade que cavaqueiam enquanto as mãos tapam a face.
Palavras assanhadas saem da boca, qual gata em pânico, embatem na parede e caem sobre o colo. Colo vazio, sem viva alma para aninhar.
Leve sono se aninha ao lado, lugar esse que deveria ser ocupado por um cigarro.
Fecha-se o biombo, o espectáculo nunca começou, afastem-se os voyeurs.
Reina e impera a ansiedade do que não se teve.
10 Junho 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

A chuva cai a jorros por detrás da parede que me separa do mundo real, poderá ser imaginação da minha mente.
Quem sabe, não a julgo como um filme que é colocado a rolar numa tômbola.
Mais facilmente serei eu colocado a girar em torno dos meus pensamentos, inquietudes corporais que de virginais nada se poderão chamar.
Bate com força no chão, riposta contra o ar, ouço o seu gemer aquando entrada nas frestas das casas.
Transeuntes não os há, também não os vejo.
Ponho-me a adivinhar o que outros como eu estarão a pensar, a fazer.
Tolices de uma mente que não tem mais em que pensar, até terá mas o caudal de situações inoportunas estagnou.
A mente vagueia entre as frestas da chuva, dois corpos que se colam. Nus entre a brisa que os envolve, não acalma o fogo que arde de dentro para fora.
Ergue-se uma ponte entre ambos, tentam os dois passear, atravessar pé ante pé.
Caem os dois no vazio que os separa, nem a tesão que tanto os incomodou consegue aguentar o corte transversal que alguém teima em desenhar.
Bate a chuva, batem os olhos que teimam em descair a cada palavra que é esmagada na folha de papel.
Teimosia, talvez insistência do que escreve.
Venha mais chuva, mais calor, mais corpos desnudos.
A mente continua a rolar na tômbola, o corpo adormece entre um espasmo.
Rebenta o caudal, transborda o dique que foi colocado entre as partes mais íntimas do cérebro.
A água que correr agora é outra, são lágrimas de prazer pelo facto de o ser do mundo se ter abstraído e ter escrito palavras quentes e viscosas enquanto a noite era banhada por algo que poderá ter sido imaginário ou tão real como a saudade que o que escreve sente.
08 Junho 2010