segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Olá, está aí alguém?
Nada nem ninguém, somente o ranger de algo que teima em se manifestar.
Aconchego-me à vontade de falar, gemer, sei lá.
Vazio cortante, penumbra que veste quatro paredes.
Respiração que vai esmorecendo, medo muito medo.
Tal qual uma criança, brinco com as palavras.
Deixaram-me num canto, solidão que me acaricia.
Despojo-me de chorar, que adianta?
Tremura, canto, tento espantar a saudade.
Fechar de olhos, abrir do coração.
Deixo-me embalar, alguém canta, ou serei eu que ouço?
Posição de feto, adormece o cérebro. Morre a noite em meus braços, juntos partimos para um plano paradoxal ao que estamos.
Olá, estou aqui.

02 de Agosto de 2009
Na manhã da vida perguntava o porquê do porquê?
Hoje num final de tarde, o sol descai na planície que se formou.
Limito-me a prenunciar que o porquê é uma condição, não tem acção apenas uma imposição.
Grave e sublime pensar, no fingir que teimo passar.
Não quero o condicional do limite, desejo explodir em fragmentos do ser.
Livre como o espaço entre duas palavras.
Teço finos versos, teias que entrelaçam os olhares.
Avista-se a noite, magra e sedenta do conhecer.
Suspiro que salta da boca, beijo entabaloado numa rima ordinária.
Tens o saber do meu ser.
Cultiva-me, faz-me crer que a noite trará a lucidez e não a embriaguez do porquê quando me perguntarem o porquê de não te ter.


28 de Julho de 2009
Intenso prazer, sai-me das mãos.
Jorra num acto contínuo, gemer silêncio.
Vem o vazio, nudez envergonhada.
Falta o toque, numa palavra de carinho.
Fumar neste momento iria defumar o meu ser.
Beijo a noite, lavo-me em rosas.
Corpo que estremece, eleva-se mais um clímax.
Deixo-me adivinhar entre o prazer e a saudade do que podia ter.


25 de Julho de 2009
Desabrocha da boca um lírio, seria de esperar um beijo: ardente, embora fugaz, talvez lambido pelo desejo.
O beijo não houve, leve brisa rompeu o acto.
Mãos que tremem, levam lágrimas aos olhos, espelho da ansiedade, grotesca ambição de um leve roçar.
Múrmurios, lamentares, pesares pendurados em paralelo juntam-se a palavras.
Obtusas, velozes e certeiras.
Pisam e empurram sem sequer pensar que alguém as arrancou.
Teria tanto para dizer, embora este sentir não se traduza. É fictício para todos os que vêm.
Restam os pesados minutos, orgasmos reprimidos aquando tua pele toquei.
Secura, não quero beber a não ser teu corpo. Paro de escrever, chorarei num cigarro.


23 de Julho de 2009