segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A noite desmaia a teus pés.
Entre espaços respiras a saudade aquando a lembrança invade o olhar.
De longe esboço um soneto ao teu corpo.
Poderia ter-te mas perder-te-ia nas mãos do bom senso.
Estou aqui, descansa.
Ouço o Jazz que não gostas, não faz mal.
Sentas-te não sei onde, deixei de te ver.
Agora deambulo eu, vagamente atiro insultos.
A quem? Não interessa.
Esmoreço, agarro-me a um lampião.
Deixar-me-ei estar. O frio corta-me o escrever na luz nocturna.
Há-de haver outros que por aqui irão passar.
Lágrimas irão verter. Aí serei a fonte dos que amam e são proibidos de o fazer...
21 Dezembro 2008

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Dissolver nocturno, limpa a geada do pára-brisas.
Entenda-se que estou só, além palavras que tentam penetrar nesta escrita.
Esgueira-se então a vontade do que tudo quer saber.
Estendo a mão, beija-me não como se fosse o Rei mas aquele que tece o ardor dos amantes.
Há muito que o silêncio se foi, deixou a sua presença.
Vagueiam, estrelas na estrada.
Imóvel, toco os sonhos que se soltam.
Serei Rei de quimeras vindouras.
Abre-se, ou melhor dizendo acorda a realidade.
A essência nocturna ainda se move em volta do carro.
Não sei que escrevo, vagos pensares.
Paro, é o melhor.
Lamechices, convertem-se em pontos que quero afundar...
14 Dezembro 2008

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

As palavras jorram da boca, são leves orgasmos.
Espasmos contidos à espera de um parágrafo.
Poderão ser sem sentido, como estas que te escrevo. Tão pouco me importa que as entendas ou as leves ao peito num abstracto paradoxal.
Não gemo como poderás pensar, grita de prazer antes os dedos que se esforçam por acompanhar a mente.
Sentado no banco que me espera, levanto o olhar sem cessar de ditar o que quero que escrevam.
Tem calma que deixarei umas linhas para que tu que lês possas também obter do prazer que sinto.
Lânguida é a vontade de não parar. Quero mais e mais.
Nunca saciarei este sentimento que me invade abruptamente.
Quando em teus, não de ti que me lês - peço desculpa se te ofendo. É para aquele que me embala e me eleva - braços me deito, a fome é outra. Mas escrevo sempre em teus lábios o quanto é belo amar e ser amado.
Vai vertendo palavras, o corpo acalmou.
Mato o êxtase de mais um orgasmo com um ponto final.
Afinal tudo tem um fim, até o mais leve prazer de um poema te escrever.
02 Dezembro 2008

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

You told me that you love me,
And I love you more than the words that I wrote over your body.
You told that you love me, but you killed me crossing that door.
I cry, and cry; now I don't love you...
I can remember the night when our bodies explode of pleasure.
Remember baby, I told that your skin is like roses.
When I think of all this things... My heart cries, because you told me I love you.
Oh babe! Why did you leave, turn back...
Don't you see, I’m dying...
If you told me one more time that you love me...
I turn over the world, and say to anyone, that I’m the happiest person of the world...
But, you don't say that again, do you know why?
Only because, I don't want you more.
Now i say goodbye...
Texto escrito há mais de um ano.
12 Março 2007

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Perdi-te na imensidão do amar.
Quis encontrar-te entre palavras adocicadas, beijos ardentes, loucura condensada.
Tinta derramei sob a angústia que senti.
Voltas e reviravoltas envergam a saudade.
Não encontrei, nada mais procurei.
Distendo a flexibilidade corporal na noite que me cerca.
Um estado de embriaguez, cega-me a alma.
Não te escrevo entre linhas mas entre os espaços que a minha língua desperta por faltar um beijo teu.
Gracejar do Outono, despe o sentir dos amantes.
Olho em volta, pessoas ou bonecos divergem o olhar no horizonte.
Não notam que não estás.
Deverei dizer-lhes?
Não iriam entender...
No desejo do amar o entendimento finge ter a lacuna de nada perder.
Vagueio, além o mar a meu lado. São as lágrimas de sal que deitei.
Onde andas?
21 Novembro 2008

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Reflexão da sobriedade, em nada clara.
O coração sobrepõe o pensar com o amar.
Exausto se desfia em finos monólogos. Não queiras ponderar.
Poderás vir chorar em meu peito, sabes que estarei no senso comum da razão.
Serei a mão que te levantará do chão.
Não tenhas medo das gretas que o pensamento faz.
Com amor as preencherás.
Achega-te, embalar-te-ei em mortalhas de versos.
Juro-te eternidade, para além de quimeras futuras.
Não esperaremos por D. Sebastião coberto pela neblina, esse já a insensatez afastou.
Traz vestido apenas o desejo de me amares.
Reflexão do meu amor trará a verossimilhidade do prazer canal.
Estarei na redondilha do soneto aquando a lucidez se entornar sob mim.
12 Novembro 2008
Estranha vontade de fechar o olhar, adormecer...
A sala roda em torno do copo de vinho que não bebi.
Façam as suas apostas, digo eu.
Ninguém está aqui, dispo-me e ponho-me a pensar que a leveza da brisa me acalma a leida ansiedade.
Mão que me embala, cospe melodias de outrora.
De cigarro na mão, enxoto o embalar.
Estendo-me na languidez do desejo. Tapo o sexo, cruzo o olhar e exalo uma baforada de fumo.
A minha vida seria um cabaret ordinário em hotel de luxo.
Lá vagueiam as doidices que me saem no ar que me circunda.
Destapo-me, sou livre.
Que me importa que venha um olhar indiscreto pela janela.
Danço num compasso ritmado, alegre.
Desloco-me até à janela, rua deserta. Tresanda a cusquice, passeia uma coruja na corda da vizinha.
Recebo o beijar nocturno de braços abertos.
Atrás de mim ainda jogam a roleta russa.
O copo que deixei chama por mim.
Bebo de um só trago.
Veludo que me toca, calor que cresce.
Num momento instantâneo lá vejo chegar um orgasmo.
Solto um suspiro que invade o exterior.
Mandam-me calar.
Gargalhada duo, janela que se fecha.
Sonho que se iniciou...
10 Novembro 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

Chegas, marcas o espaço num compasso lento.
Frágeis fragmentos rolam no ardor que deixaste.
Desces em meu corpo, tomas água da fonte que brota da minha boca.
Poderia morrer agora, eterno seria em teus lábios.
Danças no cume de mim, lava que me inunda.
Descobres um arquipélago na península do meu ser.
Estou exaurido, amanho um cigarro em jeito de final.
Dizes que não.
Passeia em mim, larga o fogo, a chama que sustento.
Marcaste a tua posição, eu alinhavo um até já na porta da saudade...
24 Outubro 2008
Apaga-se a luz, silêncio.
Não gritem na surdez, incoveniência imprópria.
Vou tão bem no bater do sapato no chão que me eleva.
Abre-se um olho, um outro que se fecha.
Sai da minha boca reticencias pautadas pelo aroma do teu corpo.
Não se cheguem a mim, estou em estado zen.
Narcisista, eu? Não creio.
Estendo o lençol de água a meus pés, que flutuem as vibrações naturais.
Não me falem, deixem o silêncio lavar o meu salivar.
Vou para onde a monotonia pretender.
Jasmim que encontro, faço dele um cigarro.
Sabe a devaneios e loucura.
Não me incomodem quando estou a ter um orgasmo.
A culpa será do verbo que é carne mole e fraca.
Adeus, irei gritar um último suspiro de prazer.
Tratai de me deixar estar...

24 Outubro 2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Não te sei amar de outra forma, se não daquela que não conheces.
Faz parte do meu ser, conduta, estado do ser que impele o porquê do querer.
Amar-te-ei de todas as formas e feitio, mesmo que no intervalo do limite digas que não.
Que adianta amar-te de forma tão convencional, se é em teu corpo que tatuo a heliografia que fará derramar pedras do olhar de quem lê.
Oh, que te venhas e vás, deixarás sempre um caudal de alucinação em minha boca.
Não te sei amar através da fórmula que escreveram.
Que importa, se num almofariz piso a paixão e te barro com o ardor...
Não te sei amar daquela e de outra forma é verdade.
Mas saberei sempre amar a antítese aquando me deito nesse olhar intenso e sorrir de gueixa.
23 Outubro 2008

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Pensei que fosse mais fácil dizer o que sinto.
Encenei monólogos, até duetos.
Fragmento de língua travada me saiu, olhar escamado pelos dedos que num zum zum limparam a última palavra.
Acto de desenrolar a língua num diz-que-diz seria contínuo não fosse a preguiça se espreguiçar.
Palavras, esquemas, simbolismos...
Quão difícil se torna aquando o sentir vira o tempo verbal do avesso.
Teimo em colocar granadas nas frases, esperança que um estilhaço me traga o que pretendo.
Mão humana quer escrever, mas será com um leve exercício muscular que com os lábios pronuncio a m o - t e.
A fonética está surda, não cores.
É o teu amar que me faz ser tão difícil escrever o que te é amar.


13 Outubro 2008

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Quereis vós amar?
Amai-vos por entre as folhas de cerejeira e o ardor do pinhal. Colham o fruto vermelho que mais vos apetecer.
Tapem-se com o orvalho que sai do lacrimejar do sol.
Oh, querendo vós amar...
Plantai-vos sob o estrume despojado de outros seres que perderam a dicção da palavra e colocaram um hífen.
Quereis vós amar?
Amai-vos no caudal do luar, venham as intermitências do prazer.
Esgotem a saliva bebendo o cálice que vos dou.
Beberão o nada, nada sabendo que vos irá esperar.
Abram o baú, manta que deslizará a vossos pés.
Aroma ardente, provocante até.
Êxtase, fogo, ardor...
Nada importa, querendo vós amar.
Insistem que escreva estas parcas e talvez opacas palavras. Não será ordem, um desejo abrupto que me rompeu de rompante a mente inundada de sei lá que mais.
Quereis vós amar?
Sejam loucos, deitem palavras ao vento.
Forniquem no seio da noite, calor vos dará.
Perguntam-me vós - Queres amar?
Se quero amar? Eu já amo o amor que me flambeou e trinchou com a seta do cupido.
Amar, amo todos os minutos que com ele estou.
Odeio os segundos quando a saudade me toca.
Mas amar tem 1g de amargura e 1kg de felicidade por cada beijo.
Amar, amo aquando o seu corpo se roça no meu e me diz - Amo-te.
06 Outubro 2008

sábado, 4 de outubro de 2008

Beijo suspenso na boca.
Delinea-se a noite sob os corpos nus que se enlaçam num salivar adocicado.
Enrola-se um amo-te ao dedo que percorre a sede de amar.
Afigura-se o desejo em torno do ar, desliza como seda.
Quebra-se a loucura, paixão avassaladora.
Mais um beijo mal amanhado por entre a linguagem corporal.
Soneto que se dissolve por entre o lacrimejar de felicidade.
Estou em teus braços.
Embalas-me, dás-me um beijo de boa noite.
Beijo que se desprendeu para em tua boca se dependurar.
02 Outubro 2008

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Estenda-se a toalha bordada na mesa do manjar.
Tocará o sino, corram.
Finos raios quebram a brancura, dão-lhe um toque sublime.
A mão que a tocará, dirá a verdade.
Quem não tem nada a dizer que se cale para o todo sempre.
Vem a criança esfomeada, reclama a união do cheiro que invade o soalho.
Não calem o inocente, coitadinho.
O chocalhar dos talheres será a banda que tocará.
Sento-me, estou só.
A brancura deu lugar ao vazio.
Já não penetram os raios de sol, agora é a mão nocturna que tacteia na lânguidez.
Toco o sino, mudo grunhe, tons que desconheço.
Puxo a toalha, curta e áspera.
Enxugo o soalho que derrama saudade.
Saudade do tempo que fora beijado. Mesmo por pesados pés.
Caminho até à janela, sacudo a toalha.
Deito fora os verbos que compõem este poema, recolho-me por entre a persiana.
Recolho a dor e estendo a reticência de te amar na cama que me irá abraçar.
29 Setembro 2008
A cigarra canta o silêncio nocturno.
Descanso sob o orvalho que vestiu as pedras da calçada.
Lânguidade distante, morna e sombria está a meus pés.
Não a quero hoje, prefiro o livre tacto.
Olho o vazio, vendo o poema que componho.
Lágrimas doei a outros olhos que por mim passaram.
Teço a linha imaginária, doem-me os dedos. Quem me mandou cavar na terra em busca de serenidade.
Chamam por mim, ignoro o chamar. Não estou nem para mim mesmo.
Silêncio pretendo.
Deixem-me ser os loucos que fingem.
27 Setembro 2008
Carta que escrevi, fado cantado.
Há tanto tempo que não bordo o linho que lençol da cama se tornará.
Lanço um olhar gaseificado pela saudade.
Olho o que te disse na terra do amor.
O cuco anuncia o recolher das almas.
Tantas ajudei hoje, estavam turvas pelo orvalho que as cegou.
Ensinei-as a amar tudo e nada.
A noite rasga o silêncio, balouço que me acalma.
Saudade em mim finda.
Análise crítica, o fumo que brinca na minha boca.
Sentido de perda de orientação, busco-te e não te sinto.
Ziguear de palavras, apenas te servirão para te dizer que a carta que te escrevi em meu corpo a guarda.
Suor, lágrimas, dor...
Sentir cândido e brejeiro da palavra amor.

10 Setembro 2008
Chão gretado, fede a saudade.
Espirais circulam no ar, todos se desviam.
Quão medo, têm do sentir.
Admito que há dias em que nos tornamos obtusos perante tal cheiro.
Não tenho vergonha de afirmar que me perfumo com tal essência.
Sempre que o chão chora, eu acompanho-o.
Sou a carpideira que de forma sublime vela pelo amor.
Também eu sou uma greta que brotou de teus olhos.
Vagueio sem ti, aguardo que me tapes o vazio.
Não me tomes como louco.
Se o fizeres, pensa que a maior loucura é-te amar.
08 Setembro 2008
Ando por aí, acolá, sem destino.
Vem a puta ter comigo - há quantas linhas não escrevia sobre ti - tenta vender os seus préstimos.
Não lhe dou ar da minha graça.
Continuo o passeio como quem toca um nocturno de Chopin.
Insistes em me seguir.
Respondo que não. ris-te, dizes que me sente a teu lado.
Queres que te ensine sobre o amor.
Como poderei eu ensinar tal sentimento a alguém que fornica com o dinheiro?
Ainda que te falasse do ardor que é o amor não entenderias.
Dizes-me que eu não entendo nada, que sei eu de sentimentos?
Digo-te que nada poderei saber talvez, mas ao contrário de ti tenho alguém que me ama.
Ris-te afirmando que todos aqueles que te deitas também te amam durante os minutos que contigo estão.
O luar desce sob nós, acendemos um cigarro.
Olha um cliente que te chama, vai com ele porque dinheiro não te irei pagar.
Olhas-me e choras, dizes que não.
Queres desabafar, por uma noite não queres ser o prazer de um alguém que nem o teu nome saberá.
Pedes-me uma Ode ao amor.
Agora sim gracejo te dou. Digo que uma Ode não te irei dar.
Cito-te uma frase escrita em tempos por mim:" O verdadeiro amor não é aquele que nos faz chorar no fim mas no início"
Nada e dizes, estás pálida - Que tens tu?
Não me respondes, lacrimejas.
Dou-te um lenço, agradeces.
Dizes-me que vendes o corpo em parte pelo prazer mas também pelo vazio de não teres quem te ame.
Perguntas quantas pessoas não se vendem por um afecto.
Não te respondo, vender-se-ão não recebendo dinheiro mas um beijo uma festa, etc.
Rematas com - Afinal quem é a puta?
Deixo-te enrolada em pensamentos.
Quanto a mim, volto ao meu lar pensando na saudade que me domina.
Adeus, puta, não a que se vende mas a que me inspira a escrever.
08 Setembro 2008
Até mim chega o soluçar de uma criança.
Abro a janela, vejo um pequenote com olhar carmim.
Ao ver-me foge, esconde-se na penumbra.
Canto uma canção de embalar. O inocente aproxima-se.
Sinto que me esmurram, vejo-me naquela criança.
Sentir transversal, obscuro.
A infância que rasguei fragmentou-se e ali apareceu.
Sinto o seu chorar em mim.
A penumbra que o acolhe dissipa-se.
Estou tonto, falar neste momento será como abrir o livro que já li.
Fecho a janela, enrosco-me a uma música que o rádio cospe.
Adormeço, pensamentos e sonhos à rua deitei.
08 Setembro 2008

domingo, 7 de setembro de 2008

À laia de soslaio, invade-me a insónia.
Com ela a vontade de escrever sem cessar.
Esgueiro-me até à rua.
Puxo de um cigarro, fumo o ar da noite.
Prazer infinito, eleva-me a um estado de paz.
Quebro a monotonia com a minha presença.
Que insensatez será esta?
Espertina que me acompanha.
Viva alma não vejo, nem o alcatrão me esperava.
Contorce-se, finge uma dor.
Mentira agradável, não ter que fingir o que queria ter.
Abençoo o galo que me canta.
- Olá bom dia.
Gargalhada que perdura - cinismo alegre.
Os olhos dos dedos que se fechem. Quero dormir.
Quem serei eu neste fantasiar de palavras?
A insanidade disfarçada de homem a quem a noite um beijo roubou.
07 de Setembro de 2008
Como podes amar-me?
Amar-me será um pecado, um veneno mortal!
Não te importa o que pensam as mentes vazias, bem sei.
Vê como suas línguas esquartejam o chão que andamos.
Como podes-me amar?
Sabes que por ti pérolas dei, múrmurios ao vento gritei.
Mandaram-me calar, meu corpo sossegar.
Tremi, confesso-te. Quis chorar, arrancar a roupa e em ti me afundar.
Lágrimas peneirei, o coração pesei.
Nu, na rua dancei.
Quiseram-me prender - está louco - disseram.
Nada importa.
Como podes tu me amar?
Se me estendo no soneto que te escrevi, um copo de vinho me encobrirá.
Como podes tu não me amar?
Se por ti montes e vales saltei, a morte enganei.
Como poderemos nós não nos amarmos?
Quem nos reprime, que se cale!
Se não sabeis o que é amar, como podereis vós não querer que outros se amem.
Se não sabeis amar, deixai que eu vos ensinarei.
Amor meu, retórica te coloquei.
Fecha os olhos e ama-me perguntando: Onde estavas quando não te encontrei?
7 de Setembro de 2008
Horas mortas, encurtam o leve passo.
Choro, a saudade cai abrupta.
Conto o que me seca a alma.
Formando um círculo cúbico, batem palmas.
Caio, afogo-me no meu próprio pensamento.
Que um raio afugente o pesado tic-tac.
Se gritar, irei acordar o silêncio.
Nestas horas, há o hábito de contar quantos fios de cabelos tem o luar.
Hoje, o amargo da saudade teima em me atormentar.
Não a pretendo afugentar.
Desejo-a em meus braços tomar, beijar e ao êxtase e à loucura a levar.
Mas somente hoje, e porquê hoje?, nem o pestanejar quer funcionar?
Ergo-me e piso as horas.
Já não quero pensar.
Deitar-me seria um desejo obsceno.
Tomarei a liberdade de acariciar a ponta do véu.
Véu que desce sob mim.
Cetim?, é provável.
Lembra-me o teu corpo num breve roçar.
Envolve as horas que matei, jamais terei que lamber o veneno que é não te ter aquando o relógio parar.
Sentido obtuso?
Qui ça, sendo o verbo amar dos mais irregulares que em meu corpo irá passar.
07 de Setembro de 2008
Bebo da vida. Porque não?
Se não o tenho em meu peito.
Oh!
Quanta saudade...
Que te importa que eu chore?
Vê, as mãos que te escrevem, tremem. Estão tolas, paranóicas.
O rosário à muito que desfiei.
Tomo mais um trago. Amargura se aloja na garganta.
Porque nasci Português?
Saudade não sentiria, a dor de te saber meu, quando a meu lado estás.
De que serve?
Renego a vida que se dá a beber.
Beberia o teu corpo...
Quanta melancolia, paro de tremer.
Diz-me que te beberei de um só trago.
Quando chegará esse dia?
Até que ele chegue, irei me embriagar na dor do ter e não ter.
03 de Setembro de 2008

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A luz que acendeu, o gato que se escondeu.
Resta somente o olho da bisbilhoteira que me vê.
Não quero que me veja, escondo-me atrás da palavra que deixei a meio.
Estrangulo mais um cigarro.
A boca reclama que o abre e fecha é demais.
Não faço um caso do caso que ela me diz.
Deixo-me envolver na inexistente brisa.
Lá vai um transeunte à fonte.
Leva com ele o garrafão do vinho.
Maldita embriaguez.
Sinto-me embriagado só com o gesto.
O toque do chão arrepia-me a pele.
A palavra já se perdeu no gemido que dei.
Pontapeei a vírgula. Não vou agarrá-la. Deixa-a estar, outra virá.
Dispo o fato de ser para me deitar na métrica do poema que queria fazer.
31 de Agosto de 2008
Ainda que soubesse, não teria o que afirmar.
Nada li, nada beijei, nada falei, nada...
Somente o nada.
Não tem o pensamento vontade de ocupar a languidade que o faz sonhar.
Tragam as plumas e as lantejoulas e façam-me vibrar.
Vê como estou sentado no desejo de o teu corpo abraçar.
Ainda que quisesse mentir, mentira em desejo se mostraria.
Não olhem para mim, não sou nada.
Somente nada.
Esqueçam as plumas, as lantejoulas.
O saber do amar quem amo me fará saciar o vapor, sim calor que destila na boca do que me manda calar.
Ainda que eu quisesse, não saberia como não te amar...
30 de Agosto de 2008

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Há fases em que sou tal qual uma bomba.
Basta cortar o fio errado e rebento.
Todavia, torno-me um cordeiro que coloca os olhos para dentro e arranco o coração.
Digo sempre ao pastor que me tire a lã. Não servirá para tecer.
Envergarei a vergonha, qual tortura da inquisição.
Vagueio por prados do purgatório.
Não choro, mas corre a dor pelos orifícios que suporto.
Mania esta de flambear quem me rodeia.
Culpa? em parte sim, alivia-me a essência de malvadez.
Paro sempre para beber do sono que Morfeu traz numa gamela.
O pastor nada sabe, perdoa-me.
Não me perdoarei nunca.
Embora a faca de dois gumes me pique e faça arder.
27 de Agosto de 2008
Apontamento de um ser:
Choro pela noite, desgraçada tem mudanças de humor.
Nunca sabe se quando ri, chora.
Piso, o quê?
A estranha forma de vida que ela me deu.
Brejeira como é, deu-me em quimeras o prazer de uivar, gritar, rir...
Se hoje por ela choro é porque a indiferença me penetrou.
Teimo em raspar as lascas que dos dedos saem.
Já não escrevem, a humidade os gelou.
Hoje sou a carpideira, a viúva que de vermelho se vestiu e um fado dançou.
Abro os braços, que entre em mim a negrura da saudade, da tesão, da loucura...
Não estou nu, com papiro me vesti.
A pena que me irá escrever, molha-se nas lágrimas.
Será em branco que o soneto irá aparecer.
Que a língua que me deseja venha lamber a tristeza e transborde a hipérbole do sentir.
Choro pela noite é verdade.
Chorará ela por mim? Claro que não!
Ingrata.
A lua que a acompanha deita labaredas.
Arde para em mim renascer.
Chorar, choro por a mão que me tocou estar a escrever um beijo no coração que dei.
26 de Agosto de 2008
Quis amar o que sou.
Quis então a vontade, que o amar se tornasse na verdade do meu saber.
Tanta acção do sujeito, quando o predicado tomou um tempo verbal que não o seu.
Ainda que quisesse, nada poderia ter ou ser.
A inexistência do conhecer guilhotina será.
Quando e onde levarei o escárnio que sou a todos?
Dramatologia exalo aquando o que quis o meu não querer se mostrar.
Amar, amo tudo e todos.
Verdade ou mentira, perguntem à vontade se nem guionista sou.
Ai, como quero eu amar quem sou.
Parto o coração em dois, não serei o predicado.
Apenas o pecado, do que quer se amar e a vontade não lhe deixa.
25 de Agosto de 2008

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Lavo o tempo num tanque, esfrego a cinza que transborda de mais um cigarro.
De forma brusca, coloco o que me restou no estendal. Pingos saltam-me em cima, olho e limpo.
Prendem-se entre o odor que liberto. Pendurantes que me acompanham.
A vizinha que passa, pergunta o que trago.
Respondo que será as duas faces do símbolo do teatro.
Há pingos que reflectem a tristeza e a alegria.
Misturam-se, criam pontos de saturação.
Recolho o tempo, invade-me a nostalgia. De um trago bebo o vinho que me irá acalmar.
Quanto ao tempo, a sua noção perdi.
Digo, olá sou eu. Quem eu sou?
O segundo que morreu na contagem de mais um beijo.
Tempo para que o quero?
Há tempo que não me sentia tão pretérito-perfeito do futuro que escrevi.
Fujo do tempo e de mim.
22 de Agosto de 2008

terça-feira, 8 de julho de 2008

Não queiras saber de mim.
Estou entre o sonho e a realidade.
Despi a mente, o sono que me invadiu.
Onde estou? Não o sei.
Vagueio no fio da navalha que desfaz a barba do prazer.
Porque quererás saber de mim? Eu não o quero.
Ignorei o sinal de loucura, decadência.
Estou longe de ser o Apolo.
Ataquem o feio que desenha o palavreado ao luar.
Não queiras saber de mim, não estou cá nem acolá.
Vejo-te, choro.
Noutro tempo quis saber quem sou.
Mas sonhei, sonho que me afundou na embriaguez da realidade.
Fugi, o corpo deixei.
Não queiras saber do que te digo.
Se te procuro e quero de ti saber.
Arranca a redundância que habita em mim.
Queres saber de mim?
08 Julho 23h20
Dá a ti mesmo a oportunidade de mudar.
Está nas tuas mãos tecer a camisola que irás vestir de ora em diante. Pega nas agulhas e trabalha a malha mais linda que alguma vez foi inventada.
Não precisas de adornos de ouro, basta a simplicidade e amor.
Olha em teu redor, abre o teu ser.
Vasculha bem no fundo o que podes mudar.
Nota que a noite cria raios de sangue, rompe o imenso céu.
Vê como ela se torna grandiosa com a sua negrura.
Tu poderás romper o ciclo, deverás fazê-lo quanto antes.
Lava o teu corpo com sabão, esfrega.
Não quererás vestir a camisola nesse ser que tanto te incomoda e atormenta.
Não será como antes, bem sei.
Dá a ti mesmo um pouco da brisa que refresca a cascata ao cair e forma um arco-íris.
Sê o sol de ti mesmo, queima o que não te faz feliz.
Acima de tudo, vive e sê feliz.
(apeteceu-me variar na escrita, há dias assim)

domingo, 6 de julho de 2008

Olhai aquela pobre alma que implora misericórdia.
Em joelhos, pede que não a deixe.
Nada faz demover o homem que suporta as lágrimas e pesar da que enche o passeio de sangue, sangue que jorra do olhar.
O homem vai, a que chora levanta-se.
Tomba para o lado, embriagou-se com o odor do seu amar.
Vede que ela traz ao peito uma pedra de gelo, o coração entregou-os aos pombos.
Já não chora, chorar seria resposta ao que lhe perguntaram.
Deixem-na estar, ela com o tempo destilará a raiva, a angústia.
Escrevo sobre ela, enquanto a vejo dançar seminua por entre o jardim.
Será o fim de quem ama?
Não pretendo aquele fim, também não tenho motivos para o pensar.
Olho a pobre alma, olhai também tu.
Vede como ela se atira à noite, fornica que nem uma louca com o lampião que lhe acende a lamparina.
Já ela tinha mexido e remexido o cú do banco onde caiu, encontrou um beijo esquecido.
Tira-lo agora do bolso.
Entrega-mo dizendo: Sê feliz, tu que me observas.
Não deixes que te envenenem, é tudo injúrias.
Guarda este beijo, tira-o quando tiveres só.
Cola-o em tua boca e saberás que o teu amor em ti pensa.
A alma que pobre já não é, saiu lentamente.
Deixou um rasto de dor a arder no chão.
Lambo esse rasto, os meus lábios explodem, coloco o beijo.
De ora em diante sei que pensas em mim.
E a alma, a alma sempre presente estará.
A chorar para todos lembrarmo-nos que por detrás de um grande amor há a loucura de ser infeliz.

06 Julho 22h50

Para uma amiga

terça-feira, 1 de julho de 2008

O espelho devolve-me uma imagem baça.
Limpo energeticamente, continua igual. Que é feito de ti?
Andas cansado, abatido.
Olha para ti, não te vês. Porque será, já pensaste?
Nem o espelho te quer mostrar a figura que carregas.
O teu corpo arrasta-se, deixa um rasto de pensamentos mórbidos.
Não te reconheço nesse pesado andar.
Vejo-te no alto do prédio, atiras o espelho.
Cacos reflectem o grito que queres soltar.
Acenas-me, estás a roer mais um cigarro.
Vou ter contigo, estás nu.
Não me refiro à nudez corporal.
Habituaste-nos a uma linguagem corporal em que sonetos gritavam aos nossos ouvidos.
Vejo-te sem rosto, coloca uma máscara.
Não importa o quê.
Não suporto ver-te assim.
Anda, levar-te-ei ao jardim, conversaremos com os grilos que tocarão um nocturno de Chopin.
Não teimes em não vir, o que importa o que os outros vão pensar?
Tu já sem rosto estás.
Ninguém notará que trazes um adorno na face.
Liberta essa alma, sê tu mesmo que isso custe.
Olha para o espelho com o olhar que nunca tiveste coragem de ter.
Vê que há alguém que te ama, não querendo saber se te vês ou não.
Acorda desse estado, corre.
Vai em busca do que te fará mudar.
Atira-te ao mundo e deixa que ele te ampare em seus braços.
Volta para junto daquele que te deseja, e só depois vê-te ao espelho.
Verás que a imagem esteve sempre lá, bastava que abrisses os olhos.


01 Junho 23h04
Asas, para que as quero?
Não sei voar, ando bem devagar. Neste mundo de passagem estou.
Obrigado a quem as me quer dar.
Não são precisas, com as mãos levanto voo aquando a alma o entende, os meus olhos levam-me a horizontes belos e distantes.
De que preciso eu?
De asas não será certamente, a liberdade encontra-se fechada numa mão que a estrangula.
Não seria o acto de penetrar o imenso céu e as nuvens que me iriam fazer sentir liberto de algo a que não estou preso.
Prisão?
Todos nós estamos encurralados numa masmorra, seja ela qual for.
Do forro sentimental, sexual, profissional não importa.
Não a sentimos quando devemos sentir.
Quando os dedos folgam um pouco, e escapamos por entre as gretas que os adornam o corpo que carregamos sente-se confuso.
Inerte o cérebro comanda que voltemos.
Pincelo de verde esperança as grades que me separam do mundo exterior.
Há uma nesga de saudade do tempo em que berrava por um biberão de leite, tempo que não volta.
Sofrer, não sofro, não sei o que é ser livre.
Saberá por ventura algum ser o que essa palavra significa?
Todavia enchemos a boca afirmando que não vivemos enjaulados uns nos outros.
A liberdade termina onde a do vizinho começa.
Poderia ser o tema de uma crónica, eu direi que se trata de uma mera falsidade que a boca dá ao pensar quando este não tem mais em que meditar.
Eu dou-te as asas que me ofereceram, sê tu livre na imensa ignorância de pensares que um dia voarás por entre os trigos doirados.
Beija a lágrima que deito, guarda-a em tua boca.
Poderei não ser livre na quantidade e forma da expressão que escrevo, mas serei mais livre pensando que estou preso a uma mera máscara que cairá quando a noite chegar.

01 Julho 0h38

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Com o cigarro queimo a ponta da saudade. Arde lentamente, pequenas fagulhas dançam no ar. Ai, há uma que me invade o olhar. Choro, palavras que se sobrepõem. Formam montes no vale que se encontra mais abaixo.
Sacudo tudo com calma. No final obtenho um soneto e uma calma aparente.
Termino o cigarro que tão bem sabe.
A saudade ainda se mantém.
Doidivana como só ela sabe ser.
Recebo a aragem que me invade com um leve gracejar.
Elevo o corpo numa nova posição.
Descanso sob a tensão que volta a exercer-se.
Palavras não choro, agora sentirei apenas a doce vontade de te amar.
30 Junho 2008

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Dispo o relógio de horas, tacteio o ar em busca do último do cigarro que fumei.
Folheio o livro que nunca irei ler, ponho o rádio a tocar.
A luz encontra-se a meia medida, a lua rebenta no imenso pano negro que se ergue sob o tecto.
Quis a vontade que a razão e a consciência tirassem férias.
Sinto-me como que perdido na inexistência do saber e ser.
Tomo pequenas porções da acção e sentido, não me faz efeito.
Tombo que nem um bêbedo em busca de mais um copo de vinho.
As palavras jorram de forma animalesca, os gestos desconcertados são tudo menos sinais.
Não sei que fazer, os dedos brincam com um cigarro que me pergunta se o vou fumar ou não.
Olho-o com um ponto de interrogação, respondo com um ponto e vírgula.
Ao longe ouço, não distingo o quê.
Sento-me no chão, desenho o sol e a lua.
Numa das extremidades inicio o que poderia chamar de prosa.
Atiro com o lápis contra a parede, desfaz-se ao meio.
Deito-me, ronda a cabeça, o corpo.
Sinto-me como que no meio de um tornado.
Solta-se uma lágrima, os dedos arranham o chão.
Sentir tão estranho, não tomo mais porções.
Estarei lúcido aquando o que perdi voltar.
Não sei quando será, não tenho interesse em sabe-lo.
Rasgo a roupa, roço no peito o carvão do lápis.
Caracteres desenho, sinto-me bem.
Se enlouqueci, perguntarás tu.
Não sei, mas que a loucura é doce como o mel e livre como a carta de alforria isso é.
Loucura que se estende em cima de mim.
Comigo amor faz, leva-me a um estado zen tal que o meu corpo fica rijo.
Deixo-me estar, quero gozar o doce clímax.
Deixem-me para sempre neste estado, não quero ver a realidade.
Escondam a razão e a consciência num baú.
Apenas quero que o amor me encontre e me resgate.
Me trate como um príncipe, me tire a virgindade de ser louco por um dia.
Que me entre nas entranhas e me devore com desejo.
Os ponteiros chamam por mim.
Finjo que não ouço, dou-lhes um beijo de boa noite.
Peço que durmam em paz. Esta noite serei o doido que desce até ao inferno de Dante para renascer com a Fénix.

26 Junho 23h56

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Tu que levas o sal aos olhos a cada gesto que fazes viver na ambiguidade de ser o não ser?
Teimas em viver atrás de uma personagem que não se encaixa.
À noite despes-te, tornas-te numa gueixa. A puta que ora te vê passar insulta-te por andares a roubar-lhe os parcos clientes que já lhe fazem a corte.
Ris-te, ou melhor tentas sorrir. Sabes que é só no horário nocturno que podes ser quem és na verdade.
Na hora de vestires a pele que não te designaram, arrancas um pouco mais dessa alma já velha.
Desejas correr com a tua nudez por onde quer que te vejam.
Pretendes lamber as feridas que te fazem …
Já não sabes quem és, desdizes o que dizes …
Olha para ti, és tal qual a árvore que está nua.
Dança ao sabor do vento, aquando este lhe toca. Já serviu de sombra aos amantes quando tinha folhas e era útil.
Hoje chora por estar só, mas sente-se feliz por na verdade hoje mostrar o corpo enrugado mas sem o pudor do que possam pensar.
Vê-te ao espelho da sociedade, nada és do que se não uma pedra bruta em vez de uma polida.
Não te pisam, és diferente das outras.
Tornaste-te insensível perante os olhares cortantes, não sabem o porquê.
Não o saberão certamente. Quando morreres até uma estátua te irão erguer.
As prosas que escreves serão divulgadas nas escolas, alunos e professores saberão chorar a cada frase.
Não chorarão como tu. Bem sabes que teu corpo se contorcia tal qual um orgasmo, espasmo.
Eras feliz quando escrevias nas noites quentes de verão.
Tira o sal, põe o blush. Sê feliz e deixa que se rastejem a teus pés.
Serás insensível com ou sem sal em teu olhar.
Sai para a negrura da noite, acena à puta e diz-lhe que já não serás a gueixa mas o homem que busca a felicidade.

24 Junho 0h47
Este texto fecha um ciclo de textos anterioes. Com isto espero inciar uma nova etapa na minha vida em tudo.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Num beco solta-se um gemido. À partida seria de prazer.
Chegando-se mais perto nota-se que é de sofrimento.
É mais um orgasmo que se perdeu do prazer.
Chora copiosamente, levanta-se.
Procura o corpo que o deixou.
Corpo que chegou, a vontade aliviou e a seguir fugiu.
Vergonha com ele levou por ter quebrado a indecência.
O orgasmo brinca com a luz que o brinda de forma lenta e preguiçosa.
Beija a lua que o acolhe.
Eleva-se a um outro que ali virá a sua tristeza deitar.
Será a angústia o simples acto de ejacular a dor que dos olhos não saem?
20 Junho 2008
Há uma mão que me aperta, estrangula.
Não sei de onde vem, sufoca-me.
Sinto sonolência, não vejo o barqueiro. Também não teria uma moeda para pagar a viagem.
Tento gritar, a voz está cortada.
O meu corpo não reage, deixo-me levar.
Olhando em redor, as vozes jogam um jogo de apanha e foge.
Não choro, chorar seria viver na tristeza de quem tudo perdeu.
O cérebro parou, quero ir mas a acção espera o click do take do realizador.
A mão não me larga, toco-a.
É fria, áspera como lixa.
Fecho o olhar que me pica a visão.
Escrevendo enquanto me estrangulam faz com que vá para outro lugar.
A mão acompanhar-me-á.
Nada importa, se a mão que me mata é a alma que transporto.
20 Junho 2008

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Se me dei em outra quimera não o sei.
O Inverno do ser por mim terá passado. Ainda hoje réstias de folhas secas de plátano bailam em meus olhos.
Dar-me a quem?
Poderia falar entre dentes que mostram o fumo de quantas insónias de mim saiam.
Houve um tempo em que ter tempo era a dor a macerar os dedos que gemiam a cada palavra que escreviam.
Que interessa se me dei?
Lembro o tempo em que me dava às pedras da calçada pelo puro prazer de ter com o que me entreter.
Hoje, dou-me a nada e a tudo, jogando o coração na boca de quem me adoça.
Nunca em tempo algum me dei, conjugava mal as orações das frases que lambia ao anoitecer.
Poderei concluir que hoje envergo a lua cheia aquando teu ser me canta o fado dos amantes.
Dar-me, dou-me a ti que te deste a mim ...

19 Junho 2008

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Teve o tempo a vontade e desejo de um ponteiro analisar.
Viu a languidez escorregar por entre o mecanismo que se esforçou por ser rápido.
O tempo que tempo pediu, o ponteiro deixou. Não tinha interesse a monotonia das horas que pesam o tempo no seu acordar.
Perdeu o tempo a sensatez, coerência.
Decidiu que tempo não queria ser, tormento optou por ser.
Perguntou o tempo ao tempo o porquê de tormento querer ser.
O tempo que se riu, mostrou as teclas de piano que é o seu sorriso e nada disse.
Zangaram-se os dois.
Tempo deixou de haver, tormento passou a existir quando o relógio era consultado e via-se que tempo nunca houve, apenas a dor de sofrer por mais tempo haver quando se ama.
18 Junho 2008

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A inconsistência do ser humano leva-me a pensar na leveza do ser enquanto corpo.
Somos frágeis, tal qual o aço que se dobra.
Jorramos ar dos olhos aquando uma dor se apodera de nós.
Sabemos rir quando abrir a boca é colocar umas talas no estendal do falar.
Quão leve é a essência.
Perfumamos os outros com um leve sovacar, não que sejamos porcos. É uma prática de eras e quimeras.
Se me ponho a pensar, divago no vazio do não ser o saber.
Vou andar pelo passeio dos inúteis, idiotas.
Não querendo ofender as mentes inteligentes, prefiro a doce burrice que a amarga inteligência dos que se iludem ao pensar que humanos são.
16 Junho 2008
Chega de falsas lições moralistas!
Todo o putedo, a ralé diz o que desdiz insinuando e ditando a cartilha que jamais souberam ler.
Basta, eu digo e afirmo.
Não quero palmadinhas, quanto mais facadas.
Olho o infortúnio que se pavoneia diante de mim.
Que um raio o destrua, que o vento o leve.
Com a mão que falo, afio a língua.
Espetá-la-ei em quem falsos pudores demonstrar.
Chega de sofrer, de chorar em seco.
Rasga-se a pele, o coração.
Lava-se a alma, mas a dor, a angústia corrói.
Basta!
Basta tudo e nada.
Apenas quero sair, quero paz!
16 Junho 2008
Trocamos mudas conversas aquando o tempo cai sobre nós.
A ligeireza da ondulação faz-me navegar até o vazio.
Sinto uma lágrima seca, presa entre a dor e o olhar daqueles que nos acompanham.
Merda de vida que tudo nos tira.
Ao estar sentado na proa, vislumbro belas paisagens.
Natureza morta e viva.
Chega-me a felicidade e dor de quem está na margem.
Não tenho o velho do Restelo para pregoar o infortúnio.
Apenas a poesia que dança neste corpo que tem vontade de se atirar borda fora.
09 Junho 2008
Durante descida do Rio Douro

segunda-feira, 2 de junho de 2008

As horas escoam entre os ponteiros.
Há muito que o sacristão sacudiu o sino assinalando as onze horas.
Estendido sob a manta de silêncio, teço as linhas de saudade.
Serpenteio a vontade de fumar o teu corpo.
As mãos tremem, choram com ardor.
Recebo o desejo que me roça com a sua língua.
Salto dou, deambulo tal um louco que um dia a camisa-de-forças perdeu.
Que fazer? O meu ser ouve um jazz, a vocalista corta o silêncio em quartos.
A mulher que chora na rua.
Não bastava a vontade, ainda tenho que ver o que ali vai.
Chora sentada num beco.
O homem que amava, com ela amor fez.
Amor sofrido, lambido pela lágrima de ser a última vez.
Não consigo volto para a manta.
Coloco o som no alto, desfaço o manto tal qual a mulher de Ulisses.
O cigarro acendo, bebo a chama.
Meu corpo arde, dispo-me.
Como desejo que aqui estivesses.
Teu corpo molhar-me-ia com o desejo e a loucura irá experimentar.
Arrefeço, vou ter com a mulher que chora.
Trocarei com ela de lugar, chorarei é verdade.
Mas chorar de quem amor contigo fez sabendo que em breve voltarás.
2 Junho 2008