quarta-feira, 30 de abril de 2008

Do relógio sai tic-tac, tic-tac.
A escuridão que me acolhe.
Eu deitado, abro o olhar.
Pensamento que sai, entranha no breu.
Não me mexo, quem está aí?
Nada, ninguém. É o eco do meu respirar que se sobrepõe ao tic-tac.
Loucura, loucura será eu não gritar.
Irei gritar na surdez dos que não ouvem.
Rio baixinho, psiu não posso acordar-me.
Acabo por espremer o palpitar, o grito, a raiva no estampado dos lençóis.
Maldito tic-tac, porque não calas esse gracejar.
Fumar, não posso. O que posso eu?
O corpo dormente nem sente o leve bracejar do Morfeu.
Parto o tic-tac. Raios!
Silêncio gritante, incomoda-me.
Remexo-me, a cama geme.
Sair, vou-me. Para onde?
Não sei, o onde não importa se o porquê bem o sei.


29 Abril

segunda-feira, 28 de abril de 2008

O mar, hoje nada me diz.
Sinto-o vazio, distante.
Os olhos que buscam têm uma capa que os obstrui, tudo nega.
Uma leve pontada toca-me, não sei explicar.
Ando a fumar demais o stress do dia-a-dia.
Sentido oco, estragado, magoado tal qual o mar que se sentou ao meu lado.
Vejo uma criança que chorou pela mão que não lhe tocou. Depois o adulto crente, sonhador mas que sofre na noite fria de verão.
Aceno um leve lacrimejar, engulo a angústia que o mar ora me traz ou embala para outro lugar.
Sentir tão enfadonho, soturno.
Encosto-me, não sei bem ao quê.
Sinto que as pálpebras pesam água que querem jorrar em meu peito.
Tremo, uma constante já em mim.
Vou parar!
Vou na cauda do vento um aconchego buscar.
28 Abril
Escurece a página que escrevo, saíste de cima de mim.
As palavras pingam o suor que expulsámos ao atingir o estado Zen.
Tento escrever, a folha foge dos húmidos dedos.
Atiro a página contra a quente brisa que me aperta em seu peito.
Escrevo, não escrevo?
Já não tenho como fazê-lo, no meu corpo seria uma tribal de metáforas beijando o bastão que me bate ao pensar em ti.
Olho em redor, ninguém mais escreve.
Eu e apenas eu ...
Põe-te de novo em cima de mim, quero escrever a quadra perfeita em teu ...
Vou recolher o instrumento. Não mais consigo, falta-me a dor para criar.
Deito-me sob o pensar, vou meditar que em mim de novo estás.
23 Abril

terça-feira, 22 de abril de 2008

Quis o grito se soltar, agarra-o ai que ele se vai - guincho que sai da velha que está à minha frente.
Acabou por se prender entre a braguilha e o monte que a separa.
A velha que finge não querer ver, mas descobre o olhar.
Tento soltá-lo, sacudo, mexo, abano ...
Ai jesus que me esmurro e o grito não sai!
Desisto, outros gritos terei que libertar.
De tez serena, espicaço outro, o que preso ficou ciumes demonstrou.
Raios partam os gritos, qual gases e puns que libertamos quando não desejamos.
Encolho-me de vergonha.
Um riso malvado me sai, estarei senil?, doido?
Que me importa a sanidade se nem um grito me sai.
A minha mudez incomoda muita gente, mas não incomodarei eu muitos mais quando grito com as palavras, o que os demais desejariam libertar?
Conto à velha, que grito de prazer ao ter um orgasmo - pobre velha, lembra-se dos tempos em que ansiava o dia de Reis - grito de dor, de angústia ...
A velha acena com a cabeça, será aquilo sinal de assédio?
Finjo que não vi, deixo-a a dilatar as teias de aranha que a acompanham.
Dou por mim, sem o grito que queria gritar e que preso ficou.
Aceno um breve adeus, retiro-me para onde o grito me amou.
22 Abril 18:03
A gaveta fechei, nela me deitei.
Na escuridão da penumbra senti-me a toupeira que cava e cava ...
Rebusquei a raiz do teu corpo, apenas desejo e saudade encontrei.
Mexi-me no exíguo espaço - cantei a canção de embalar.
Deixei-me ir por entre a cueca que vestiste e o perfume que me provoca.
Não adormeci, teus braços imaginei rondarem o meu ventre.
Abri com um movimento o rectângulo de madeira.
Saltei para a cama - onde estavas?
Ris-te, quem te disse que poderias enlouquecer-me?
Aconchego-te a mim, foi então que acordei.
abraçado ao beijo que te despertei quando o teu corpo se vestia e a mim despia.
21 Abril 23h53

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Escrevi na página anterior a amargura de ter o que não quis ter não podendo obter.
Redundância se poderá ler.
Mas na verdade o verbo amar isso trata.
Vesti a paginação com a metáfora, que teria eu na cabeça.
Chorei muito, a alma rompi, os olhos limei.
Tudo escrevi, o que quis quando não desejei.
Em outra quimera, bem pensava amar.
Não o poderia fazer, a minha vontade já tinham colocado no purgatório.
Espancaram as palavras e frases curtas que escrevi.
Em outra página, gemi e macerei a vontade.
Vontade de lamber o fado que caia da boca do fadista puritano.
Com a mão que hoje escrevo, outrora neguei a boca que beijo.
Em outra página fingi que o ser ou não ser é uma premíscua solidão.
Na página oposta derramei o desejo de ser Homem quando em toda a pura verdade, homem já eu era.
Olha para a página que termino de escrever e nela vê.
Vê que amor, tesão e paixão são redundâncias quando em teu corpo entro.
20 Abril 01h13

domingo, 20 de abril de 2008

A luz que se acendeu, nada mais foi que a lua ao se erguer.
Despi-me. Agarrado ao reflexo exercido no mar dancei até que uma gaivota em mim pousou.
Com ela fiz amor fugaz, violento, ardente.
Gritei e gemi sob a ondulação que o meu corpo vinha lamber.
Exaustão saia de mim, não parei após acto contínuo de prazer.
A dança continuei, música?
Não a tinha, para quê.
Do meu órgão notas musicais eram expulsas.
Até a areia que soturna tem por hábito ser num voyeur se tornou.
Nada me importou, meu corpo gemia ao ser penetrado pelo raiar de mais um luar. Um orgasmo fingi, a cabeça tombei e suspirei.
Acendi um cigarro, acto premeditado.
Sob o mar deitei o prazer que me saia.
A ti que ao longe vias-me e me pintavas com o pincel, enviei uma lufada de fumo.
Vi-te tremer de loucura.
Aí me vesti, contigo fui ter e um verdadeiro orgasmo desejei ter.
20 Abril 23h30

quinta-feira, 17 de abril de 2008

A puta, na rua acena-me.
Finjo que não a vejo, acelero o carro.
Para trás deixo alguém que perde um cliente, paciência.
Mas penso que vida aquela daquela alma.
Se bem que na verdade todos somos prostitutas.
Ora de nós mesmos, de um patrão que nos chula, de um outro alguém que amamos mas muitas vezes fingimos ter prazer apenas para que tudo termine.
Somos putas que se levantam cedo e deitam tarde. Batemos com a mão no peito e dizemos: que pouca vergonha isto ou aquilo ou sabe-se lá mais o quê.
No fundo temos vergonha, medo de sairmos para a rua e abrirmos não as pernas mas a boca e a alma expondo o que pensamos.
A puta que para trás deixei não será feliz, mas pergunto eu - seremos nós felizes afastando a puta que há em nós?
Pergunta retórica está visto.
Bem deixo-vos a pensar na puta que todos temos.
Quanto a mim, puta já sou, saudações a quem o venha a ser.
Até já.
16 Abril 23:05

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Talhei em teus lábios a doce e eterna saudade de me amares.
Subi ao palco da vida e aí gritei aos espectadores que fui a puta que me apeteceu, o mentiroso que me fiz, a doida que pela noite vagueou. O poeta que fingiu amar quando tudo odiava, o homem que outros homens amou.
Nem um aplauso, não faz mal.
A saudade que em ti criei acena-me.
Dispo o figurino do que fui, corro a cortina de bambu.
O espectáculo terminou!
Em mim trago o beijo que me mudou.
Beijo que me deste numa noite gritante em que o sol teimava em fazer amor com o luar.
Nesse entardecer te queimei com o meu falso pudor.
Se te talhei, hoje sei que foi por te amar.
Não mais o figurino vesti, no purgatório de outra estação o deixei.
Dedico-me somente, ao lapidar de palavras que em teu coração pretendo colocar.
Hoje e em diante não mais serei a puta, serei o rei que em teu coração chora quando me vens amar e em tua boca o amor vem a dançar.
Talhei em tua boca a vontade de te amar.
Não te demores, estou aqui vem me buscar.
14 Abril 0:08

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Sonho, o que sonhei?
Espaços em branco que se sobrepõem.
Não sei porque sonhei, se sonhar não faz parte da condição humana.
Ser sonhado, por quem?
Poderá alguém um dia ter imaginado o que o subconsciente pensou?
Quão lenta é a mente humana ao dizer que sonhou quando em toda a verdade apenas lamentou o que queria ter sonhado.
Orgasmo que senti, sonhei?
Ambos ilusões que o corpo teima em fazer que acreditemos que existem.
Se sonhar, ter um orgasmo - a forma da frase torna-se pálida - é um prefixo do substantivo, então quero um adjectivo.
Sonho? Sonhar é tão breve, instantâneo que os olhos o eliminam antes de se abrirem.
Vou atar um sonho a um cordel, irei deixar que a gravidade do meu descansar o sustenha no tecto.
Irei colocar muitos, quero os substantivos juntos ao adjectivo.
Formarei uma nova condicionante humana.
Tirará algum arbítrio ao ser, mas se o mesmo não o usa, não notará.
Sonho que sonhei.
Onde está?
Na cara de espanto daquele que isto lê.
9 Abril 0h00

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Gritos abafados por uma lágrima que escorre.
Tornam-se secos, agoniantes. Consigo sentir a dor bater na janela.
Continua a angústia, torna-se aguda, divide o meu quarto em quatro.
Arrasto-me junto da janela.
Vislumbro uma figura agachada, rodeada pela saia rodada.
Soluça a negrura que ecoa da noite.
O candeeiro que a se mi-ilumina acende um cigarro.
Lança o fumo sobre o que julgo ser uma mulher.
A personagem ergue-se, lança para o alcatrão a dor que traz consigo.
Oiço-a contar ao gato que brinca com o esqueleto do que foi uma sardinha que o homem que amava não a encontrou.
Roda a saia sobre si, o gato coscuvilheiro, senta-se na ponta segurando o acepipe.
O candeeiro, já habituado a estas lamurias apaga-se deixando o ambiente soturno.
Continuo à janela, qual velha que tudo ouve: acordei com o grito, tudo pretendo saber.
A mulher diz que nas pedras procurou, a terra escavou, ao mar se entregou mas em nenhum encontrou.
Quer o homem que nunca amou, mas que sabe ser o tal.
Com ele fez amor, ao tocar-se na cama.
Ele é o maná que a faz viver.
Solto um ponto de interrogação que paira no ar. A mulher que vê, o gato que foge.
Sinto vergonha. Ela sorri dizendo, que o homem numa tela um dia pintou.
Com um beijo o fez nascer, com o sexo o fez homem.
Perdeu-o quando o não tratou, cuidou ...
Preparo mais um ponto de interrogação, o gato que me arranha.
Afasto-o de mim, quando para a rua me volto ...
A mulher se foi, deixando apenas a tela que pintou onde o meu amor desenhou ...
Sentir o teu sexo a palpitar em minhas mãos, fez vibrar o meu corpo. A minha mente saltou do parágrafo ao índice do kamassutra.
O desejo de te possuir e ser possuído naquele momento fez rebentar o meu cérebro.
Neste momento, o palpitar ainda dança em meus dedos.
Desejo-te da forma mais animalesca como da mais doce.
Pretendo em ti entrar e que tu em mim fiques.
Tenho sede, fome, tesão, calor.
De mim saem vapores que se destilam com o meu perfume ao imaginar que me roço em teus vales e montes.
Não sou capaz mais de escrever, entra em mim que eu entro em ti.
Despeço-me de mim com um breve aceno.
Não quero ser a testemunha do crime que irei cometer.
Vou matar o desejo.
A navalha já afiei, o corpo de maus agoiros limpei.
Com destreza oculto o gemido.
Abafo-o com a tua voz, a navalha não pára de perfurar a vontade que teima em sair.
Passa um noctívago, é voyeur.
Vê-me matar o desejo, afugento-o.
Não quero presenças, apenas o meu e o odor que a noite larga.
Tanto desejo terei para retirar, não mais sou capaz.
Termino, deixo o que resta num soneto.
Pedi a um filósofo que o escrevesse.
Vou descer até ao infinito, levo o soneto que te entrego enrolado em suor, tesão e jasmim.
Recebe-o, vou-me.
Faz do meu corpo o que entenderes.
Não uses a navalha, utiliza antes um almofariz.
Usa depois como perfume.
Volto a dizer adeus, já não finto o desejo flutuo agora por entre os dedos que me chamam ...
A cortina que descia anunciava a noite que ora se espreguiçava, ora se deitava.
Ficou a meio, não notaste.
Estavas embriagado com o cheiro do meu beijar.
A cortina manteve-se a meia haste, púdica.
Não queria ver, nem interromper o acto corporal que os dois corpos executavam.
Lá acabou por se render e um cálice nos deu.
Como poderias ver meu amor, tamanha era a tua exaustão que de ti cores e flores bailavam em teu palrar.
Vestimos de novo, o quê perguntará quem desatento está.
A roupa dirá mais um maldoso, já com o seu sexo a trabalhar.
Na verdade, o olhar um do outro vestimos.
A pequenez do ser nada vê a não ser o que queremos mostrar.
Atiro-te um amo-te - já estava a divagar - retribuis com um soneto escrito nas amêndoas que trazes encaixadas em teu semblante.
De ti saio, de ti parto para o meu habitat. Não julgues que o esqueço, tu que me lês.
Levo-o na lembrança que trago embrulhada na saudade daquele que tanto quero amar ...
Cresci na terra, fui criando raiz.
Banhou-me o sol, a chuva me beijou. Cresci, não querendo ser a altitude do que me rodeia.
Hoje sou uma árvore, que floresce.
Estou a abraçar o outono quando deveria estar a fazer amor com a primavera.
Sinto que sentam debaixo de mim, beijam-se, fazem amor, comem.
Deixam-se sempre só.
Só não, tenho a andorinha que em mim pousou e o seu ninho criou.
Andorinha queres casar comigo?
Bem sei que somos diferentes, mas não poderíamos ser uma equação exacta.
Deita-te em meu ramo.
Daqui não posso sair e mesmo que migres e eu esteja em plena nudez em meu coração te poderei aconchegar.
O copo que se parte, a criança que chora.
Os vidros enfeitam as pedras da calçada que sacodem os cacos.
A criança que grita ao pedir um chupa.
O vento corta-me a respiração, vejo uma pedra cantar o fadinho da desgraçadinha.
Continuo sentado na poltrona do café, não é a brasileira do Pessoa.
Não me sento a um canto a escrever, isolo-me de tudo.
Tão fácil, encontro nas palavras o antídoto da saudade que me vai.
Saudade, tão nobre, tão amiga.
Nem os vidros sentem saudade do tempo que era um copo.
Abafo um cigarro na bica, estendendo o corpo na frase que escrevo.
Tento sorrir, mas estás longe.
Consola-me saber que pensas em mim.
Volto ao fado, coitada está esganada.
Não solta a alma, também não pode.
Alma não tem.
Corro pela via láctea, dançando o soneto da Florbela: "Deixa-me dizer-te os lindos versos que te fiz/São talhados a mármore/Trago-os em meus lábios ..."
Desço a realidade, torno o copo ao que era copo.
À criança faço uma festa, e à minha saudade convido-a a comigo tomar um chá.
Tic-tac, tic-tac, tic-tac ... O relógio avança não havendo nem tempo e medida que o faça parar. Tic-tac, tic-tac ... Olho em volta, todos se mexem como robots. A mulher que finge que lê, o homem que a olha pensando que podia come-la. Tic-tac, tic-tac ... Anda tudo ao meu redor, poderia me matar. Ninguém daria por isso. Poderia gritar, chamar-me-iam louco. Tic-tac, tic-tac, o relógio que teima em não parar. Deambulo por entre o espírito de cada transeunte, não será a palavra mais certa. Transeunte é aquele que se move. Estes são fantoches, agem consuante o hábito?, senso-comum? Tic-tac, tic-tac, chego ao fim da linha. Movo-me mecanicamente também.Piso o chão. Este geme, andam sobre ele, mais parecem elefantes trombudos. Pisam-no e tornam a pisar a sua dor. Os fantoches foram arrumados cada um em suas caixas. Tic-tac, tic-tac ... Estou só, para onde vou? Torno-me num fantoche também? Procuro o senso-comum. Este não me quer, rejeita o meu ser. Encontro o saber que me estende a mão. Tic-tac, tic-tac ... Diz-me que sou um fantoche enquanto ser, mas enquanto saber sou o poeta que manipula as palavras e o ser. Tic-tac, tic-tac ... O que sou afinal se não um tic-tac de mim mesmo ...

24 Março 2008 18:13
Acendo um cigarro, oiço teus passos arrastarem-se no poema que declamei ao soalho. Perguntas: Ainda acordado? Respondo que te espero; Chegas-te a mim. Dás-me um beijo de boa noite. Choro um verso, que me inunda o gélido corpo. Continuo de forma lânguida a puxar o fumo. Teu corpo vai-se desenhando. Tomas a forma de uma nota musical. Sento-me numa cadeira, sem parar escrevo. Invento uma nova corrente literária. Estrangulo as palavras com a dor de apagar o cigarro no cinzeiro. Paro, estou exausto. Gastei as palavras, coloco tudo no baú. Peço-te mais um beijo. Não me ouves, recolhes a sintaxe que está no chão. Anda, isso não se perde. Deito-me sobre o lápis que usei para escrever. Estou aqui na nudez de quem deitou fora a palavra e abraçou o amor.

23/03/2008 23:45
É loucura dizer o que não digo quando sei que o quero dizer é a anáfora do que sinto ...
Não entendes? Não faz mal porque eu também não.
Vou equacionar tudo num teorema.
Resolve o que desenho entre palavras.
Não sei que escrevo, ser louco é isso mesmo.
Amar é a maior loucura, ora não fosse um dos mais difíceis problemas em que x mais y nunca tem um resultado certo.
Portanto se digo o que na verdade não digo diz-me o que pretendo te dizer ...
Estou louco bem sei, mas só os loucos são cegos ...
Ri à vontade, sou cego, louco.
Mas só eu sei que o que te quero dizer não é aquilo que penso.
Raciocínio filosófico?
Não sei.
Palavra a palavra vai somando a insanidade em que a soma terá que ser o que te digo quando na verdade nada vejo, o que a loucura me faz ver.

11 Dezembro 2007

domingo, 6 de abril de 2008

A chuva que cai tal qual pedras sobre o tecto ...
A noite que grita de dor ...
Eu que olho pela nesga da minha janela ...
Vejo-te dançar sobre o mar que se forma a teus p´s ...
Não te importas que te magoem, cantas o fado dos amantes apaixonados ...
Cai mais uma pedra, ai que a noite desmaia a teu lado ...
Nada te importa ...
Nada vês ...
Soltas o coração, abro a nesga que teima em fechar com as vozes que gritam - Que fazei ele, não vê que é o certo - mandas calar o silêncio ...
O fado vais cantar ...
Lá a nesga consigo abrir ...
A noite que se levanta ...
O xaile coloca, contigo afina a voz, fazendo sair a dor ...
O teu fado quero ouvir ...
Estou sob a janela, vendo que as pedras não são pedras ...
É apenas o choro, que teima em sorrir quando os teus olhos ...
Em mim se põem ...
19 Novembro 2007
Onde anda a mão que um corpo desenhou?
Finas linhas traçou, adornos colocou ...
Juntou-lhe um coração de papel que se desfaz com o sangue que teima em sentir saudade ...
O corpo não pode chorar, não pode andar, não pode ...
Busca a mão que o criou ...
Precisa do seu tocar, sentindo nela o verbo amar ...
Olha o corpo vazio - diz uma criança que desenha um arco-íris - queres que te desenhe de novo?
Como poderás desenhar pobre criança ...
Não vês que a mão que me criou não está junto de mim?
Só ela pode me dar vida ...
Onde anda ela - pergunta o inocente ...
Oh meu pequeno ser, o seu corpo a levou e uma parede construiu ...
Vejo-a sempre que posso, e aí ela enche-me com o seu imenso céu ...
Eu sou o seu corpo, mas outro o levou ...
Outro que se chama saudade ...
Corpo toma este arco-íris ...
Coloca-o no lugar do coração, aí já poderás chorar ...
E quando a mão que te desenhou voltar, envolve-as com as tuas mãos para que a saudade não ta roube e a possas tomar como tua ...
Vai e sê feliz ...
Cozinho a saudade com grãos de amor, paixão, desejo ...
O meu corpo mexe tudo até ficar espesso ...
Aí reduzo o calor que de mim sai, não quero queimar a saudade que me faz voar ...
Entre tachos e panelas preparo a sobremesa, coração tristonho ...
Tudo isto não funciona, tudo sai mal ...
Falta o ingrediente principal, o teu corpo flamejando desejo ...
Deixa-me acender o fósforo que nos fará rebentar ...
Rebentar com o borbulhar que a saudade após arrefecida faz no tacho ...
Vem à cozinha comigo ter onde ser o prato principal e o cliente esfomeado ...
Anda, já acendi a minha vela, quero que sejas o meu castiçal ...
15 Novembro 2007
Porque brincas tu lampião, não vês que sujas as pedras com o teu chorar ...
Levanta-te e acende cada transeunte que passa ...
Deixa de esfregar o casaco que te deu a amargura ... Vai, vai ...
Olha aquele homem que espreita por entre duas lágrimas o seu amor se deitar ...
Ai, lampião, coitado de ti que teimas em brincar ...
Já a noite te corta o andar e tu nesse passe de gueixa ...
Anda levo-te até aquele que te falei ...
As lágrimas já não lhe escorrem ...
Ficaram presas ao ver o seu amor pedir a todos os santos que ficassem juntos ...
Vem, vamos juntos fazer aqueles dois se amar ...
Depois meu bom amigo, iremos escrever no céu o fado que Deus quiser ...
Onde estás lampião?
Oh já se foi ...
Confunde-se agora com o fumo que deito ...
Apago o cigarro, apago a dor de brincar ...
12 Novembro 2007
Solto o grito, liberto a alma ... O grito que se esconde na negrura da noite, a alma que se estende em meus olhos ...
O grito que tem medo de se perder, finta a saudade que o busca ...
A alma, finge que vê mas nada sente ao ver o que deixou de ver ...
Ai o grito que tem o dito por não dito lá conseguiu escapar ...
É vazio este grito que me sai de dentro, onde a saudade e a alma amor fizeram ...
Quero gritar, mas se o grito soltei só me resta chorar ...
Se chorar a alma se vai e a saudade morrerá ...
Não querendo perder nenhum ... Poderei perder? ...
Oh grito vem cá, dar-te-ei um motivo para te ouvirem ...
Mas o grito em outra boca já sai ...
Ai, que saudade do grito que da minha alma saía ...
A alma irei recolher ... A saudade irei matar quando na verdade em tua boca gritar o grito que cá dentro me vai ...
11 Novembro 2007
Tu que me espias ...
Sim és aquele que me despe a alma, me sacia a vontade de amar e ser amado ...
Deixa a janela que junto da minha cama coloquei ...
Desce daí, vem ter comigo ... Sabes que me encontro entre a vírgula e as reticências de um poema ... Anda ...
Vens quando não estou, para roubares o perfume que na cama deixei ...
Foi propositado, em ti pensado e por ti criado ...
Da janela que me vês, nú sempre estarei ...
Poderei apenas vestir o fado que tantos cantaram ... Mas que nenhum soube tocar ... Vem ...
Colocarei a escada, a lua irei apagar e o meu corpo ...
O meu corpo irás encontrar mergulhado entre um soneto da Florbela e uma prosa do poeta que julga saber ainda escrever ...
Tu que me vês para poente me levarás onde jamais saberei saborear o fel de não te amar ...
10 Novembro 2007
Vi Lisboa por uma janela indiscreta ...
Olhei que te amava como há muito que não o fazia ... Flores brilhantes foram-se apagando por entre ruas e vielas ...
Não fosse a cuscuvilheira de serviço alertar o pudor ...
A calçada que via da janela, se elevou e uma marcha dançou ...
As socas a chocalhar no chão, o gemer da noite ocultou ...
Olhei mais uma e mais outra vez, e notei que trocávamos juras de amor ... Até o bêbedo que zigueava por entre mais um copo de vinho chorou e a Lisboa se declarou ...
A janela fechei ...
Em meu coração entrei e lá te encontrei ...
28 Outubro 2007
A dor que sinto no meu peito, chama-se sou saudade ... Não sei definir este sentimento em palavras ...
Sei que me fere o coração como uma lança ... O sangue pinga a conta gotas ...
Guardei-as num frasco que coloquei junto a mim ... A lua que hoje brilha no céu acena-me ... Diz que estou em teu coração e que me amas mais que nunca ... Eu sei que sim, mas doí não te ter junto a mim ...
Tentarei dormir, pensando que estás a meu lado ... Peço que venhas e me acaricies para que o meu coração pare de chorar ...
25 Setembro 2007
Sobre a noite cai uma cortina de nevoeiro ...
Tal qual o pano que encerra uma peça de teatro ... Os transeuntes aplaudem, aclamam com fervor pedindo bis ...
eu que deambulo sem rumo, passo pela cortina ...
Oiço um burburinho sobre o actor principal ...
Pergunto o que se passa ... Ignoram-me ...
Continuo a andar, estou no palco ...
Dou por mim sendo uma personagem comandada pela vontade alheia ... A meu lado estás tu ...
Tento correr até ti ... Não consigo, estás a um palmo de mim ...
O público ri ... A vontade mexe os cordelinhos ... Sou uma marioneta ...
Choro, tu olhas-me ... Um beijo te envio ...
Afastam-nos, põem-nos de costas voltadas ... Tento fugir - espera a cortina está a esgueirar-se por entre os presentes ...
Anda, vamos ... Já longe nos amámos no luar de uma noite que acabou de despertar ...
04 Setembro 2007
Sento-me, onde? Não sei bem ... Sei que há uma leve brisa que roça o meu corpo, que a noite se deitou a meus pés ...
Estou só, olho em meu redor e nada vejo ... Um sentimento estranho rasteja até mim, está a meu lado ...
Não é o mesmo que tantas noites no passado me acompanhou ... Esse prendi numa garrafa e deitei-a no mar ... É algo que não sei definir ... Mistura-se com o odor nocturno ...
Cruzo as pernas e ponho-me a pensar no que não tenho que pensar ...
Puxo de um cigarro, deixo-me ir com o fumo ... Hoje, na lua vou pernoitar, até que me venhas buscar ...
29 Agosto 2007
Oiço um choro ...
Choro compulsivo mesmo por debaixo da minha janela ...
Pergunto quem é, ninguém responde ...
O choro continua, cada lágrima que no chão cai tem uma sonoridade distinta ...
Escuto mais um pouco, que lindo; parece um piano a falar ...
A rua estende cada nota que cai ... Abro a janela e pendurada numa corda vejo a nota Fá ...
Que composição musical tão estranha penso eu ...
O choro volta, a rua mais uma nota coloca no estendal ...
Eu volto a perguntar: Quem sois vós que chorais? Porque gemes esse pesar? ...
De forma envergonhada o amor se levantae diz - A razão que me faz viver está longe meu senhor ... Com alento lhe digo: Não chore mais, a razão subrepõe-se a si que é o amor mas também tem vezes que o amor oculta a própria razão ...
O amor estende-me a mão e diz: Senhor aonde anda a sua razão? ...
Eu respondo que no meu coração ...
16 Agosto 2007

sábado, 5 de abril de 2008

A noite há muito que se estendeu a meus pés ...
Com ela veio o teu cheiro que teima em me beijar ... A saudade disfarçada de desejo sentou-se a meu lado ...
Puxo a cortina da mentira e aí choro ... Um rio desce em mim por não te ter aqui ... As minhas mãos têm fome do teu corpo ...
Querem nele escrever o soneto que Camões fez para a sua musa ... Mas uma linha nos separa, linha essa que poderei afirmar ser como arame farpado que nos fura a alma e o coração ...
Vou pedir a Morfeu que me leve até um sonho teu para em ti eternamente habitar ...

16 Agosto 2007
Sentei-me junto ao mar, enquanto pensava em ti uma onde veio e beijou-me os pés ...
O sal do mar fez-me lembrar teu corpo sedoso que desliza no meu ao te acariciar ...
Com a onda do mar, chegou um búzio ...
Coloquei-o em meu ouvido ...
Ouvi-te dizer: Eu amo-te ...
Aí chorei de saudade, foi então que uma gaivota em meu ombro poisou - minhas lágrimas limpou e até ti me levou ...
15 Agosto 2007

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Lá fora vagueiam os amantes ...
Trocam olhares ardentes, quem os vê passar julga que estão a andar sem rumo ...
Os seus corações sabem que não ...
Ainda que não se toquem, os amantes inalam o odor corporal mútuo que brinca na cauda do vento ...
A velha cuscuvilheira canta o fado daqueles que não se podem amar ...
Mal sabe ela que o fado é vestido pelas almas que lavam a calçada com suas lágrimas ...
Os dois amantes cruzam-se, seus corpos dizem olá, a velha recolhe-se e a noite ...
A noite serve de biombo para os dois se amarem mesmo que estes não se amem carnalmente ...

14 Agosto 2007
Beijar-te foi como sentir um beija-flor pousar em meus lábios ...
Senti o sol por-se em mim ...
Eu estremeci, agarraste o meu coração dizendo que eras só meu ...
Vontade de te ter tive, tudo em nosso redor deixou de existir ...
O beija-flor se foi e a saudade em mim habitou ...
15 de Maio de 2007
O verdadeiro amor, é aquele que nos faz chorar no início e não no fim.