domingo, 31 de maio de 2009

É no adeus que se perde o sentir, o saber quem somos.
Um aceno, um beijo que cai da boca, a lágrima que rola entre olhares perdidos, quase vagos.
Desfia-se um até já sem se notar que os dedos sangram de dor.
Que adianta lamentar, num minuto tudo é levado: o cheiro, o toque, a tesão que rebentou e fragmentos deixou.
É no adeus que nos chega o fado dos amantes, dos que temem não haver amanhã.
Rolo no veludo da noite, acalma a angústia.
Cândida é a forma como projecto o que sinto, ninguém vê, ninguém notará.
Embalo as palavras, deita-las-eis no berço do meu grunhir.
Até já, nunca um até amanhã.
Não suportarei a enfermidade de te saber só até me encontrares.
31 Maio 2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O tanque que transborda marca o compasso. Plin, plin ouve-se o gotejar roçar no chão.
O corpo que se simula entre o espreguiçar de um entardecer.
Poisa o pássaro, beberica o que não evaporou.
Volta e meia, desvenda-se o corpo. Timidez arrastada, suor que brinca na cauda do desejo.
Endurece o céu, negrura nocturna.
Mão que descobre a pele sedenta.
Solta-se a vontade, amarra-se a libertinagem.
Sacia o pudor num copo de luar.
A mão brinca um jogo de explosão onde não há nem poderá existir a metade do querer.
Desce o véu em cascata, a nu está a origem do vibrar.
Tu que lês pensarás agora o que entenderes.
Todavia o cenário final escoou entre a vertigem de um gemer e do climáx final...
25 Maio 2009
O doce amargo que deambula, anseia, suplica um beijo.
Entre palavras e gemeres que venha o calor, a ténue dor do final.
Desfia-se no céu a sagaz vontade do voyeur que queria ver o que não lhe deixam transparecer.
Dançam o tango rua abaixo dois candeeiros, ai que o ciume do lampião vai explodir.
Juras eternas duas lágrimas que rolam da face do cigarro teimam perder no nada de um cinzeiro.
Corpo que suspira, nudez que demonstra.
Longe vai a aurora que entrava num êxtase de loucura.
Chamem o doce do amor, expliquem ao amargo do não ter que a vaidade dos amantes não tem medida.
Recolham os olhares, dois em um tornar-se-ao.
Revira o olhar a noite, tão bem ela sabe que quem ama e amado é tanto tem o doce como o fel na ponta da língua aquando um beijo se dá...
24 Maio 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Lamento que lamenta o que já lamentei tantas noites.
Fumo num banco já rasgado pelo tempo que me afundei a escrever para ti.
Tépido vapor sai de mim, quebra a ausência do suor que deitaria...
Deleito-me com mais um esgueirar do pensar.
Outrora chamaria uma carpideira e uma guitarra portuguesa. Um fado comporia em jeito de desgraça.
Esta noite não quero que o fado me cubra com o xaile.
O corpo vagueia nessa loucura que sentimos, as palavras apenas prendem o órgão que palpita por um palpite que nem tão cedo uma noite irá ter.
Roer o ar que me abana faz saciar, talvez o ardor que se pôs a jeito em meu peito.
Cruzo ou entrelaço a boca num fio de luz.
Hoje lamento não ter roubado o tempo que nos faz pensar que pouco tempo temos sempre.
20 Maio 2009

sexta-feira, 1 de maio de 2009

As intermitências da noite levam-me à loucura.
O céu desfaz-se em suaves farrapos.
Lambo o orvalho que se vai gerando por entre os meus olhos.
Insanidade, dormência de um cérebro apagado por uma borracha que alguém teve a ideia de usar.
Quão louco, poderei eu estar?
Também não quero a sobriedade das palavras que outrora alguém palrou.
Saio de mim, deixo-me molhar pelos fios de poemas que advém do céu.
Todavia pensar está fora do limite do querer.
Adormeço entre a saudade e o desejo que penetra o corpo que deixei.
A lua está fundida esta noite, despe-me e acaricia.
Não sou forte, deixo que ela e a loucura dos dias me deixem beber em teu corpo o antídoto para em pleno te amar.
30 Abril de 2009