quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Maria Bethânia - Tenha calma



Tento manter a calma, disparos de sentir, amargura, como que numa roleta russa nunca se sabe quando vai sair a cor que escolhemos.
Morro na estrada, não chego a esquartejar as palavras em gumes, rolam no asfalto em cru.
Saberão porventura que ser humano é sentir em duplicado o que outros não sentem?
Que falta faz a paz que se avista ao longe, espinhos rompem do nada, nem chego a senti-los.
Por vezes vem um bálsamo, refresca o esquecimento, ludibria o sentir que se sente cansado de tanto se mostrar.
Bem que quis, esqueci o que quis. Rasgos de memórias, estado de lucidez estrangulado entre olhares e bofetadas que o vento me trouxe.
O desejo, esse vive só, quis partir, implorei que não me deixasse.
Venham até mim, me elevem num pedestal sem suporte, não quero ser Rei nem senhor de quimeras. Imperador de uma terra de ninguém, tanto faz que seja no vazio que choro os acordes de um fado.
Descai o pano sobre mim, tudo se apaga , estou no céu? Que importa se silêncio, harmonia e tudo o que quis manter se vem chegando...

24 Novembro 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Nocturno - Chopin

Vagueia um homem sem rosto, folhas que o encobrem. A noite desmaia a cada passo que dá, não há sons, cheiros.

Imparcialidade dos transeuntes, inexistência de um cumprimento.

Quem és homem sem rosto?

Que trazes em teu coração, porque vagueias no soturno da noite?

Olha para mim, estou aqui, sim.

Não vás, deixa que te estude, te faça falar.

Também eu o rosto há muito perdi, aliás perdi-me em ruas e vielas, oblíquas, outras circulares, sei lá.

Bem sei que não pensas, tal como eu pensara em tempos, quimeras e futuros lambidos por uma vidente.

Deixa que te acompanhe, prometo não falar, serei a tua sombra.

Onde estás homem sem rosto?

Que fazes tu atrás de mim?

Serei eu a tua sombra e não tu a minha...

08 Novembro 2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Marisa Monte//Bem que se quis

Tenho fome de infinito, sede de estrelas, de penetrar o buraco negro.

Chora a rameira, lágrimas que são orvalho em minhas mãos. Vento que abana o meu corpo, teimosia da mão que não larga o luar.

Difícil vencer o derrotista, tango que se desenrola sob os pés.

Que fado carrego nos lábios gretados e marmorizados por um toque. Espiral de emoções, carrossel do desejo.

Alguém que me liberte, arranque os grilhões que me ferem a alma.

Ardósia que colocaram no céu, lá escrevo a dor, não são estrelas, talvez enigmas.

Aterro em pernas do amor, eleva-me a loucura, deixo-me estar...

05 Novembro 2010