quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Há fases em que sou tal qual uma bomba.
Basta cortar o fio errado e rebento.
Todavia, torno-me um cordeiro que coloca os olhos para dentro e arranco o coração.
Digo sempre ao pastor que me tire a lã. Não servirá para tecer.
Envergarei a vergonha, qual tortura da inquisição.
Vagueio por prados do purgatório.
Não choro, mas corre a dor pelos orifícios que suporto.
Mania esta de flambear quem me rodeia.
Culpa? em parte sim, alivia-me a essência de malvadez.
Paro sempre para beber do sono que Morfeu traz numa gamela.
O pastor nada sabe, perdoa-me.
Não me perdoarei nunca.
Embora a faca de dois gumes me pique e faça arder.
27 de Agosto de 2008
Apontamento de um ser:
Choro pela noite, desgraçada tem mudanças de humor.
Nunca sabe se quando ri, chora.
Piso, o quê?
A estranha forma de vida que ela me deu.
Brejeira como é, deu-me em quimeras o prazer de uivar, gritar, rir...
Se hoje por ela choro é porque a indiferença me penetrou.
Teimo em raspar as lascas que dos dedos saem.
Já não escrevem, a humidade os gelou.
Hoje sou a carpideira, a viúva que de vermelho se vestiu e um fado dançou.
Abro os braços, que entre em mim a negrura da saudade, da tesão, da loucura...
Não estou nu, com papiro me vesti.
A pena que me irá escrever, molha-se nas lágrimas.
Será em branco que o soneto irá aparecer.
Que a língua que me deseja venha lamber a tristeza e transborde a hipérbole do sentir.
Choro pela noite é verdade.
Chorará ela por mim? Claro que não!
Ingrata.
A lua que a acompanha deita labaredas.
Arde para em mim renascer.
Chorar, choro por a mão que me tocou estar a escrever um beijo no coração que dei.
26 de Agosto de 2008
Quis amar o que sou.
Quis então a vontade, que o amar se tornasse na verdade do meu saber.
Tanta acção do sujeito, quando o predicado tomou um tempo verbal que não o seu.
Ainda que quisesse, nada poderia ter ou ser.
A inexistência do conhecer guilhotina será.
Quando e onde levarei o escárnio que sou a todos?
Dramatologia exalo aquando o que quis o meu não querer se mostrar.
Amar, amo tudo e todos.
Verdade ou mentira, perguntem à vontade se nem guionista sou.
Ai, como quero eu amar quem sou.
Parto o coração em dois, não serei o predicado.
Apenas o pecado, do que quer se amar e a vontade não lhe deixa.
25 de Agosto de 2008

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Lavo o tempo num tanque, esfrego a cinza que transborda de mais um cigarro.
De forma brusca, coloco o que me restou no estendal. Pingos saltam-me em cima, olho e limpo.
Prendem-se entre o odor que liberto. Pendurantes que me acompanham.
A vizinha que passa, pergunta o que trago.
Respondo que será as duas faces do símbolo do teatro.
Há pingos que reflectem a tristeza e a alegria.
Misturam-se, criam pontos de saturação.
Recolho o tempo, invade-me a nostalgia. De um trago bebo o vinho que me irá acalmar.
Quanto ao tempo, a sua noção perdi.
Digo, olá sou eu. Quem eu sou?
O segundo que morreu na contagem de mais um beijo.
Tempo para que o quero?
Há tempo que não me sentia tão pretérito-perfeito do futuro que escrevi.
Fujo do tempo e de mim.
22 de Agosto de 2008