quinta-feira, 29 de maio de 2008

Torna-se difícil respirar, o ar envolvente é soturno está gasto.
A chuva que cai corta a vontade de gritar e tudo partir.
Poderia dizer que seria angústia.
Na verdade é tristeza, cansaço.
A carcaça já não sente o pesar dos ossos, inundou-se de um sabor amargo.
Pede descanso quando lhe dão adversidades.
Estou tal qual o viajante que encontra a esfinge, sendo que o enigma não saberá resolver.
Serei devorado pela leveza do saber que um dia tudo esquecerá aquando o bom senso me esbofetear.
Os meus olhos colhem a chuva, deixo-me invadir.
Longe estão os pensamentos de outrora.
Antes que caia, desfio o rosário que é o teu corpo.
Não o tenho é verdade, é a atmosfera frágil que me faz pensar que num soneto te posso criar.
Esbofeteio-me, paro.
O bater da água faz-me lamber o desejo que rasteja a meus pés.
Invade-me algo estranho.
Estou parado na negrura de mais uma noite em que tudo gira e gira e gira.
Tombo que dou, lágrima deito.
Vou recolher-me entre a última vogal e o ponto final.
O ar se vai, fingirei dormir.
Vem-me amar e ensinar de novo a respirar.

28 Maio

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Insónia que comigo se deita, faz-me fechar os olhos.
Do exíguo espaço que me deito, olho.
Olhar de guardião das portas do paraíso, vejo no céu o medo.
Rasga-o com o seu deslizar, a aurora que se levanta e lamenta.
As minhas mãos bocejam, a boca entreabre-se.
Vagueia uma pobre alma de peito aberto, leva sal na ferida.
Arrepio que se solta em meus cabelos.
Chamo o gato para junto de mim, partilhamos o mesmo fumo.
Emito um grunhido, o animal que foge.
Salto da janela, estou nu.
Os olhos continuam inchados pela insónia.
O céu larga fogo, não me atinge.
Ando sem destino, cumprimento a calçada que me insulta por a ter acordado.
Dou por mim junto ao mar, sento-me num quebra mar.
Vem uma onda mais atrevida que me lambe o corpo hirto.
Abro os olhos, a insónia não se foi.
Digo-lhe que não vá já.
Faz-me lembrar as noites perdidas numa cama em que te amei e me amaste.
Não te dou a insónia, quero-te nesse sono angelical para que me possa aproximar e em ti entrar.
Não desespero por não te ter aqui, já estás na forma de tesão, insónia.
Nas palavras que escrevo e beijo ao ordená-las em papel.
Abraço a insónia, deito-me no mar quando em teu corpo entrar.
27 Maio

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Dizer que o abismo está a um passo, será uma dupla hipérbole.
É algo parecido que me persegue e atormenta.
Por momentos perco a noção do nada, uma pancada me dão.
Não vejo estrelas, apenas o cansaço que se vai acumulando.
Não será mentira afirmar que ando perdido de mim mesmo. A orientação há muito que se esgueirou por entres as linhas do desalinho.
Vazio que tento cobrir com um esbocejar, leva-me a crer que tudo desaparece ao encostar a cabeça na almofada. Desatino será se crer que a dupla hipérbole nada diz quando na verdade tudo contradiz.
26 Maio
Leva-me para longe desta quimera em que tenho e não tenho.
Tira-me deste marasmo de sede em que te busco, qual oásis num deserto. Tenho-te ao toque de uma mão, não será bem verdade quando a mão já os dedos lapidou de tanto procurar.
Angústia que me ronda, abraça tal qual a vontade de colher um lírio selvagem para em teu corpo repousar.
Acesso de loucura me invade, rebenta com a pulsação.
Cego e surdo fico, em meu redor apenas a saudade deambula da mesma forma com que cravo o teu peito.
Oh! Pobre de mim, em mármore me vejo ao talhar em papel estas parcas palavras que te escrevo.
Bum! O meu cérebro rebentou, palavras que atropelam as vozes enervantes que teimam em circular.
Tudo termina com um simples lacrimejar. Não quero andar, por ti vou esperar sentado no mural de prosas e lamentos.
Anda, sinto um cansaço.
Vou adormecer, o veneno de amar bebi. Sê o príncipe que me salva.
Vem, não te demores ao chegar porque na barca posso entrar.

26 Maio

Dispo a vontade que se alojou em meu corpo. Avanço em passos de gueixa velha, estou na varanda.
Os raros transeuntes que vagueiam nesta sombria noite olham-me, uns com curiosidade de ver alguém nu outros com ar de reprovação.
Trago comigo a vontade, juntos fumamos do mesmo prazer.
Prazer contínuo de imaginar o que poderíamos estar a fazer neste momento.
Levanto o sexo, bem a jeito de haste.
O mesmo que se ergue chama a atenção de uma coruja. Avança devagar, coloca-se no gradeamento que me separa da rua.
Pergunta-me porque estou eu naquela situação.
Respondo que ofereço o meu prazer aos deuses para que eles me levem até Apolo.
Desejo que me percorre o corpo, faz-me tremer e atingir o auge. Expludo, grito!
A vontade ri-se que nem uma doida, a coruja envergonhada vai-se embora.
Após este feito sento-me, visto de novo a vontade.
Um vento me percorre o corpo, danço com ele sob a música que toca no rádio.
Não tenho pudor, continuam a olhar. Finjo que não vejo, nada me importa.
Desejo que as minhas mãos voem e te toquem ...
Ouço uma voz que me chama, é a minha razão que me espera na cama.
Volto para o meu refúgio, enrosco-me na cama.
Não irei fazer com ela, é má conselheira.
Irei dormir, contigo irei fazer amor entre as nuvens e os desejos daqueles que têm vergonha de assumir que conseguem atingir o mais puro orgasmo enquanto dormitam.
A coruja que volta, desta vez por de trás da janela se coloca.
Declama um dos poemas que mais gosto.
Adeus e boa noite a todos - preparo-me para que Morfeu me embale.
Anda meu anjo, aproveita agora que ninguém nos vê ou ouve.
Vem de mansinho, não necessitas bater.
Quando entrares sussurra-me ao ouvido, saberei que és tu.
Estou aqui nu e de alma aberta para que possamos o céu tocar e a lua beijar.
25 Maio

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Sentado no degrau que separa a fantasia da realidade, vejo a lágrima que dança no teu dedo.
Poderia ser um adorno, tal qual a aliança que um dia teremos.
Mas uma lágrima vi, a lágrima que limpaste do meu olhar.
Tiro o cigarro que não fumarei, será apenas o acto de lembrar-me que poderia ter feito amor contigo.
Vejo o horizonte a nu, lá não estás.
Não é a altura de nos vermos.
Tiro a pouca roupa que vesti, estando nu sinto o perfume que usas libertar-se.
O meu corpo será o pergaminho que a mão que o acaricia e estimula um verso escreverá.
Desloco a língua, enrolo-a em cone e começo a escrever: A veia que palpita poderia ser o coração.
Não tem jeito de o ser, se o meu coração te dei e tu com ele te guias.
Será a veia um holograma do que pretendo? ...
Paro a escrita. Coloco a língua de onde a tirei.
Teimosia que reina, não quer voltar ao seu lugar.
Diz-me que o teu lábio quer lamber e teu corpo comer.
Faz frio, será alucinação por estar nu.
Agasalho-me de novo, empurro-me para a realidade.
De forma cândida e lânguida desço o degrau, sombra escura me persegue.
Paro, escuto e tento ouvir.
Será apenas o desejo de te amar que me acompanha quando a saudade e a melancolia param para se amarem.
Sigo em direcção ao verbo amar.
Paro no tempo verbal - Infinito.
Aí conjugo o que poderei conjugar, apenas porque te quero amar.
21 Maio

terça-feira, 20 de maio de 2008

Olhando a mulher que chora penso que pesar será aquele.
As lágrimas nem chegam a tocar o chão, há uma outra que as colhe e guarda-as para mais tarde o chão lavar.
Há uma puta que mal consegue fechar as pernas, está cansada - ainda agora a noite nasceu.
Eu olho, em todas elas me vejo e revejo.
Lanço palavras à noite, não há vento que as leve.
Pesam-me as mãos, os olhos que querem se fechar.
Puxo de um cigarro, engulo o fumo.
Bailo com a música que sai da rádio.
A que chorava recolheu-se, a outra foi varrer o coração e a puta um novo cliente apanhou.
Aceno um leve adeus ao meu eu, vou para parte incerta de mim mesmo.
Serei o cliente da puta de mim que chora nos intervalos e lava o corpo em teu amor.
19 Maio
O frenesim que me cerca, faz acelerar o movimento cardíaco.
Perdi a conta aos cafés, mais parece água que bebo.
Inalo cigarros como alguém que auto mutila após a culpa de ter comido um bolo.
Sofro de bolimia do stress.
Espeto em mim doses gastronómicas.
Parece que a qualquer momento vou tombar e adormecer na pedra fria.
Mal me faz bem sei, ou não fosse o acto contínuo de apedrejar tudo e todos com insultos que os demais não ouvem.
Pesa-me o pensar, andar e tudo mais.
Desejo a paz constante, o desejo obscuro de me soltar destas amarras.
No frenesim que me cerca expludo vezes sem fim.
Ninguém nota, uma calma aparente mostro.
Explodir, gritar? Não adianta, se sem o stress não vivo.
19 Maio

terça-feira, 13 de maio de 2008

É nas palavras que encontro o eco que corta esta dor de ser um ventríloquo nas mãos da hipocrisia.
É nas reticencias da prosa que delineio que atinjo o verdadeiro orgasmo.
Nas palavras corto a língua, coloco a exclamação e aí, desfio a dor, tesão, o fogo que me rebenta a alma.
Quero ser a vogal que está atrás ou à frente do secretismo do enigma.
É na escrita que penetro o meio e a conclusão enchendo o papel com a água que quero deitar.
Neste momento sou o acento obtuso que se esconde.
Timidamente olha, apalpa as palavras e com elas vibra.
É na escrita que sou o Pessoa que veste Florbela para beijar o lírio com um soneto nos lábios.
É na escrita que sou a mulher que vira homem.
12 Maio

domingo, 11 de maio de 2008

Amanho a saudade, está viva. Salta-me das mãos, quer fugir.
Agarro-a, não a controlo.
Ficou mal amanhada a desgraçada.
Lambo o sal e as escamas que ficam no alguidar.
Amargura entra em mim, bebo um copo de vinho a fim de empurrar tudo.
Não me desce, a saudade goza comigo.
Lanço-lhe um mau agoiro.
Ela que se ri, eu que caio embriagado.
Canto um fado, o fado de sempre - a desgraçadinha.
Não sei eu cantar outro. A longitude entra em mim, choro copiosamente.
A saudade senta-se a meu lado. Aplaude as notas que saem de mim.
Deixa-me terminar de amanha-la.
Coloco-a depois numa moldura, só assim saberei o quanto é duro amar.


10 Maio

sábado, 3 de maio de 2008

Quis eu perder-me em teu corpo, vontade que cresceu.
Quiseste levar-me a ver o mar, sentir o cheiro a maresia, beber o sal enquanto me acariciavas.
Quis eu beijar-te em pleno centro das atenções, mas a boca fugiu para outro lado.
Os olhos bem que viram, os olhares incriminatórios fulminarem o meu corpo.
Parei, ajeitei-me em teu colo.
Abraça-me, tenho saudades das noites em que me embalavas e sussurravas ao meu ouvido.
Arrepio que cresceu, vontade de te amar da forma mais doce.
Quis, eu quis e quero muito mais.
Aqui me encontro, acompanhado de uns acordes que me fazem lembrar dos raros momentos em que nos podemos encontrar.
A vida é injusta, cruel, madrasta. As pessoas ainda mais, ditam o veredicto aos outros quando o delas têm medo de pronunciar.
Anda, encosta-te mais. Beija-me devagar, de forma a sentir todos os músculos do corpo a entrarem em transe.
Tira-me deste marasmo.
Quis eu que aqui tivesses, dança comigo.
Vamos para a casa que será nossa um dia.
Quis amar-te quando já te amava.
3 Maio 19:50