quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Cegonha ao longe, leva no bico a notícia do entardecer.
A luz desmaia sobre as asas que esvoaçam num abrir e fechar de invejar.
Rasga o céu, a lua que espreita salpica o chão com graves esbocejos.
Vê como voa, leva com ela a eférmide que é o tempo.
Enigma da paixão, desvendado pelo chão que de tanto lhe pisarem grita que amantes até mais não.
A minha mão enlaça-se na tua. Suspiro que se livra da minha boca.
Cai, morre no ar deixando um leve ardor.
Queria ser cegonha, o chão, o luar. Nada ou tudo, mas um coração apaixonado só sei ser.
Resultado paralelo da vida que tenho em torno de uma cegonha que um beijo me tirou.
A meu lado já não estarás aquando a frase terminar.
Ficarei a lembrar que em meu corpo quiseste bicar.
27 Janeiro 2009

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Não há palavras.
Os sentimentos não se medem em métricas de palavras.
Poderia usar o senso comum bem como o lugar comum.
Não somos banais, nem a nossa relação, logo condensar tudo em palavras?
Vulgarizar algo que muitos invejam seria sobrepor uma capa de hipocrisia.
Que me venham dizer que a saudade se demonstra.
Mostrarei o quão estão errados.
Assim como o livro que termino, lágrima que não caiu.
Sinto o desejo desabrochar na forma animalesca do não ter.
Gostaria de ser como a gaivota, sobrevoa o mar e num segundo o peixe obtém.
Na condição de ser humano resta-me a liberdade de voar entre o tempo esquecido que me espreita na viela mais próxima...
19 Janeiro 2009

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Fecha-se a noite, o tic-tac do relógio parou. Respiração que se sustem.
A mão que brinca, a carne que explode ao mais pequeno trajecto.
Amantes beijam-se, unem-se num fogoso cumprimento de saliva.
Evidência que palpita entre cada nota tocada.
Desejo de rasgar o céu, atravessar a via láctea e nos anéis de Saturno girar e girar até o êxtase borbulhar.
A mão que não quer parar, desenha a nudez na neblina que se gera.
Não há gemidos, encurtaria o tempo que tão pouco se torna.
Empurram a ausência carnal, vivem o prazer divinal de estar e não estarem a fazer amor.
Leve bater sentem. A mão parou, as bocas que se fecham.
O tempo entrou e um adeus ditou.
Correm destemidos por entre gracejares, escondendo a mágoa de mais uns dias o tempo ditar.
O tempo, sempre...

14 Janeiro 2009

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Silêncio, não que se vá cantar o fado.
Imposição do espaço temporal.
Rola lá ao longe, diálogos, monólogos não os sei definir.
É uma enxente de sons que se misturam com o esbracejar do pensar.
A lua rasgou a noite, fez-lhe um corte na diagonal.
Jorrou sangue, nasceu a embriaguez dos que temem a vida nocturna.
Entre as putas, gaiatos que bebem e se fazem de homens, estou sentado.
Virei-me de costas para o luar. Sinto o banho de luz, raios que penetram as palavras.
Cândida é a forma como evapora o meu fumar.
Ondas de fumo que formam balões de diálogo nas personagens.
Deleito-me ao tentar entender o que pensará cada uma. Bem visto será que não quero eu deambular pelos arquivos do meu rol de pesares.
Desce a rua a vontade de gritar. Escondo-me não me apetece falar.
Daqui vou sair.
Para onde? Não me importa.
Oh noite, eleva-me em teus braços. Deixa-me na cama do verbo amar.
Vou-me embora. Sem destino mas com vontade de poesia te declamar...
7 de Janeiro 2009

domingo, 4 de janeiro de 2009

Ainda que quisesse mostrar-te a luz, não iria ser possível.
A noite sobrevoa-nos, rasteja a geada diante dos olhos.
As mãos que gelam, a boca que se mostra preguiçosa por esboçar um leve olá.
Eu ordeno que acordes, não me ouves.
Sacudo o teu corpo.
Não vás com esse senhor. Ele levar-te -á por gélidas águas. A outra margem é obtusa e soturna.
Anda para meus braços, encher-te-ei de calor e amor.
Vê como ando a praguejar.
Loucura, exaustão.
Nada poderei fazer bem sei.
Não me digam: como estás?
Estou que não estou, o céu acende-se perante tua presença.
Corro pela escadaria, anda agarra a minha mão.
Despede-te dos que já conheceste.
Acordo deste pesado sonhar, estás ainda aí.
Inerte e disperta perante os olhares que te querem deixar descansar.
Choro a dor e mágoa que ainda há-de vir.
Não me despeço eu de ti.
Estarás sempre junto a mim aquando o homem de negro te abraçar.
04 Janeiro
Para a minha irmã.