terça-feira, 30 de junho de 2009

Pedras lançadas , a rua ferida.
Casas de costas voltadas, o calor que se converteu em chuva.
Derrama o orvalho adjacente, mãos gretadas, corpo espancado na surdina.
Mia um gato, sinal de mau agouro, tristeza aleada à dor, solidão.
A velha cura o lençol, a lua salpica-a com brancura, leveza.
Silêncio, deambula entre palavras cortadas. O grito que se parte em cacos.
Insanidade talvez, também o desespero, um je ne sais quoi.
Lacrar este palavrear com o cigarro, tentar ler.
Desisto de escrever, insónias me visitam.
Adeus.
À medida que a noite vai envelhecendo, saem do seu ventre, gemeres, lamentares, gritos, prazeres, angústias, fúrias...
Enruga-se a testa, ajeita o vestido, retoca a maquiagem.
As horas sempre pesadas, o eterno cigarro, sempre de gin na mão.
A eterna ansiedade do abraçar, beijar o raiar do dia.
Houve fases, quimeras esquecidas, em que um longo e efémero orgasmo experimentou.
Virgem não morrerá, vazio levará, a cândida tristeza a acompanhará.
Despida, longas linhas se descrevem. Rios de uma pele gasta, coçada aquando clamavam por ela.
Narcisistas, só pensavam neles, poemas, romances, tantos a escreveram mas nenhum na sua cama a deitou.
Sonhou ser a puta que tantas vezes viu, não a que o corpo vendia. Aquela que por pura tesão, loucura ou não os homens trincava.
Em nada se tornou, serve apenas os amantes como refúgio.
Toma um último trago de minutos, o raiar não irá tardar.
Excita-se, toca ao de leve nos seios, humedece a boca do pecado.
Quer um último orgasmo, pleno e intenso.
Abre as pernas, entra o amanhecer.
Explosão de luz, frenesim diário.
Faleceu a noite, não chorem os demais.
Rejuvenescida irá aparecer e outro lamento irá trazer.
28 Junho de 2009

domingo, 14 de junho de 2009

Nudez, suspensa por dois beijos, obscuridade exígua que espelha uma lua a dormir.
Corpo calvo, ausência manual de uma carícia, limpidez sagaz do desejo.
Bebe o suave veneno, incolor, até sem dor nem prazer.
Um olhar revirado busca na tímida parede um adjectivo, uma excitação. Tão breve poderia ser o ai final.
Brancura em tons opacos se vislumbra.
Cai em fios uma leve chuva, teia, empobrecida pela saudade grotesca.
O nu, estendeu-se entre duas páginas coçadas, brisa que se solta.
Quão pecador, pecado, poderá ser feito entre o martelar de segundos.
Dispa-se o nu, que tente divagar entre o sonhar: amar não passa de uma sonolência, dormência em que o corpo teima em procurar o sentir.
Tu, sim, veste-me a alma, lava-me os olhos.
Na boca manterei o credo de amar.
13 de Junho de 2009

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Abrir de asas, leve roçar pela penumbra, chora alguém, um outro ri.
Distante, alguém que vibra com um orgasmo, gemer leve, intenso, gasto pelo calor dos corpos.
Esbracejar da rua que se estende, lambe as virtudes e taras despidas. Toca o lânguido jazz, ando e vejo, escrevo no ar. Agarro o desejo de ser livre entre o discernimento, o pudor que espreita a cada esquina.
Do nada, o silêncio que me suga, faz-me rodopiar tal qual um pião.
O meu corpo finge um final suado, exausto.
A noite em mim entrou, não quero mais estar aqui.
Atirem-me para o meio de ti, junto da liberdade de ser quem quero ser.
Morder teus lábios, tapar o acto com um lençol.
Despojar-me da ironia e ser a perversidade.
Asas, não as tenho. Porque haveria de ter?
Não sou Ícaro, apenas gay.
08 Junho 2009
Liberta-se a libertinagem, apaga-se a luz em mim.
Não quero estar aqui, acolá.
Rasgar a pele, soltar o outro eu.
Vem um dedo sob os lábios - psiu, não te leve o vento.
Que importa o hoje, saudades e vontades.
Apetece-me agarrar em ti, subir ao palco, encenar um sketch. Beijar, amordaçar.
Virar a putana imunda, vulgar não me importa.
A noite perfumou-me com o desejo de expulsar, mostrar o que reprimo.
Há coisas que me espicaçam, fazem vir à tona o que me der na real gana.
Felicita-te por não estares aqui, hoje e talvez só hoje seria a doidivana que teu corpo roubaria. A rua nu desceria, mas seria feliz na condição do que sou.
7 de Junho 2009