quarta-feira, 22 de abril de 2009

Finos raios de um final de tarde penetram a janela que se ajeita da forma como lhe convêm.
Teu corpo esguio, lambido por esses raios faz-me lembrar uma estátua grega que se venera.
Observo por entre um esgueirar dos olhos que se abrem.
Vacilo entre dizer que não te mexas ou que me deixes te amar.
Imóvel, deleito-me a pensar que poderei verter o universo em teu corpo para ter o sublime prazer de girar e me deitar nos anéis de Saturno.
O teu cheiro desliza até mim, o meu corpo entra em ebulição.
Pé-ante-pé aproximo-me de ti, banho-me com o cruzar do sol e luar.
Peço às paredes que se afastem, quero-te só nesse dormir profundo.
Quando me debruço para teu corpo beijar não te encontro.
O dia levou-te deixando que a labareda do desejo me consumisse...
22 Abril 2009

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Desfolhar-te num gesto de carência fez rasgar o céu.
Levemente retirei o pudor que coloquei na cama que seria nossa.
Tremura se apoderou das minhas mãos, dançaste em meus dedos.
Ceguei com a sede de te ter.
A lua jorrou lânguidas baforadas de ar, explosão se deu.
Despi o fato de beato, revelei o meu lado selvagem.
Em teus prados entrei e o feno colhi.
A nudez que levei não me incomodou.
Penetrei na cascata que brotou da tua boca.
Loucura, nem sabia por onde te pegar.
Fez-se noite, o orvalho nos envolveu.
O orgasmo, êxtase atingi aquando colhi um lírio de teu corpo.
Repouso agora neste eterno soneto.
Vem devagar e termina a frase com uma longa redundância...
20 Abril de 2009
A noite já se deitou na cama de um outro.
Não importa quem é.
Cheira a rosas que suaram durante o acto.
Há uma certa palidez no luar, passeia uma leve brisa por entre as lágrimas de muitos amantes.
Absorvo a essência nocturna.
Acordei e não te senti.
Dormiu a noite contigo?
Não creio, se te senti me abraçar e beijar.
Percorreste os meus desejos e vontades num leve tocar.
Gemia a noite de prazer quando te amei e sonhei.
Bebo teu cheiro, vou-me embriagar e deleitar no aroma que sinto.
A noite veste-se, ordinária mas sublime no provocar o amante.
Pisca-me o olho, aceno.
Quero dormir e sonhar que em teu corpo irei sempre dormitar...
19 Abril de 2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

Quem esperas nesse vão de escada?
Não te vejo, estás num ângulo obtuso, a penumbra corta-te ao meio.
Trazes o sexo dependurado como quem traz um ramo de flores.
Anseias a sua chegada, esgravatas o metal, róis a vontade.
Deixa-te estar, saíres seria um adeus ao que está para chegar.
Olhar vago, melancólico, vidrado à espera de um passo, um arrastar de uma porta.
Tudo ouves, nada verás.
Tremes ao sentir a noite escoar no chão. Toca-te, veste o teu corpo de loucura.
Choras, ris...
Mentalizas-te que não virá, teu sexo recolheu.
Esqueceu que teimas em ter desejo de...
Ver-te nesse pesar, faz-me chorar.
Lágrimas galopam de mim para ti, telepatia.
Deixas que o cigarro te fume, envolva na geada da dor.
Ergues teu corpo, pesado pelo que sentes.
Ditas à mão que escreva um soneto, depressa, depressinha.
As palavras querem dormir, ardes de loucura, tesão.
Quem esperavas não veio, já o sabias antes de acontecer.
Impuseram que fosse assim, esporádico e teatral esses encontros fugazes...
Vais embora, também vou.
Do outro lado te vejo partir.
Do lado oposto estou a pensar que ao espelho não mais me quero ver.
14 Abril de 2009

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Teu corpo são dois gomos.
Travo amargo, adocicado que se misturam num salivar palpitante, delirante.
Comer de uma só vez seria pecado, confissão meio atabalhoada por palavras semi-cortadas.
Escorre um fio de sumo, o dedo que ampara sua queda.
A boca que te deseja, abre-se num arranjo musical.
Forma-se um soneto, contorno teu corpo flamejado pelo luar que te expõe.
Meus dedos tremem, frágeis tentam delinear no breu o teu sentir.
Sobe a temperatura, aragem que cessou.
Desfolho os gomos, devagar, com uma sensualidade e ternura que faz corar o lençol que nos cobre.
Não sei se te trinco por cima ou por debaixo.
Ajeita-te em minha boca, prometo ser infinito no prazer e vontade de te amar...
12 Abril de 2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Que sentir tão nobre é este que cada palavra é um gemer.
Equiparar-se-á a um orgasmo, sublime, intenso.
Chega como quem não pede licença, arrebata-me a mente.
Já perguntei à lua que se pendura no céu que fez ela.
Não responde, até mim desliza o prazer de gritar, chorar, rir até com a mais reles puta que lê o que escrevo.
Metarmofose que se processa, a língua transforma-se em sílabas, metáforas atiradas para o papel.
O cinzeiro reclama que o ando a queimar demasiado.
É verdade, há que matar este sentir de qualquer forma.
Uns chamarão amor, outros tesão...
Seja o que for é para ti que escrevo.
Tu que me lavas a pele e vestes com teu corpo.
Sou o chão que dormes e a boca que arde por um beijo que tirou senha para te cumprimentar.
Amar não! Eu sou tu!
08 Abril 2009
A estrada lambe as pesadas notas que saem do jazz que ouço.
O final do dia faz amor com o entardecer, irão jorrar uma lua tímida, vazia mas com leves raios de sangue.
Acerto o compasso das palavras, quero-as sem nexo e conteúdo.
Vou em paz, trago o bater do teu coração.
O beijo que te roubei, deito-o ao mar.
Que me acompanhe cada vez que o vir. Esperarei depois que a noite descaia, no mar entrarei.
Irei fazer amor, sonetos e prosas os pescadores apanharão.
Deixo então o meu corpo envolver-se em tua boca.
O jazz avança, a minha mente divaga entre a voz da Diana Krall quando diz para o amor chorar um rio.
Quero apenas que faças de mim o jazz que te adocica a boca.
Rola o rolar na estrada que fiz em ti derrapar...
08 Abril 2009

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Tacteio o escuro já coçado pela vertigem da saudade.
Procuro teus braços, o calor que me falta.
Vazio, frio me agarra.
Onde andas que não te vejo.
Escoa entre paredes o lacrimejar, a boca que se abre esperando um beijo.
Um só beijo que sugue a vontade de te amar.
Cegaram-nos os corpos, imposição dos que temem quem ama.
Sento-me, o ar é pesado.
Nesgas de um luar banham-me, lavam-me a alma.
Gota a gota que cai, é uma palavra, metáfora que escrevo.
Que importa se me encontram neste lamentar.
Que venham os hipócritas e me levem.
A alma que carrego encontrará e se consolará quando um abraço teu na luz do dia encontrar.
02 Abril 2009