terça-feira, 8 de julho de 2008

Não queiras saber de mim.
Estou entre o sonho e a realidade.
Despi a mente, o sono que me invadiu.
Onde estou? Não o sei.
Vagueio no fio da navalha que desfaz a barba do prazer.
Porque quererás saber de mim? Eu não o quero.
Ignorei o sinal de loucura, decadência.
Estou longe de ser o Apolo.
Ataquem o feio que desenha o palavreado ao luar.
Não queiras saber de mim, não estou cá nem acolá.
Vejo-te, choro.
Noutro tempo quis saber quem sou.
Mas sonhei, sonho que me afundou na embriaguez da realidade.
Fugi, o corpo deixei.
Não queiras saber do que te digo.
Se te procuro e quero de ti saber.
Arranca a redundância que habita em mim.
Queres saber de mim?
08 Julho 23h20
Dá a ti mesmo a oportunidade de mudar.
Está nas tuas mãos tecer a camisola que irás vestir de ora em diante. Pega nas agulhas e trabalha a malha mais linda que alguma vez foi inventada.
Não precisas de adornos de ouro, basta a simplicidade e amor.
Olha em teu redor, abre o teu ser.
Vasculha bem no fundo o que podes mudar.
Nota que a noite cria raios de sangue, rompe o imenso céu.
Vê como ela se torna grandiosa com a sua negrura.
Tu poderás romper o ciclo, deverás fazê-lo quanto antes.
Lava o teu corpo com sabão, esfrega.
Não quererás vestir a camisola nesse ser que tanto te incomoda e atormenta.
Não será como antes, bem sei.
Dá a ti mesmo um pouco da brisa que refresca a cascata ao cair e forma um arco-íris.
Sê o sol de ti mesmo, queima o que não te faz feliz.
Acima de tudo, vive e sê feliz.
(apeteceu-me variar na escrita, há dias assim)

domingo, 6 de julho de 2008

Olhai aquela pobre alma que implora misericórdia.
Em joelhos, pede que não a deixe.
Nada faz demover o homem que suporta as lágrimas e pesar da que enche o passeio de sangue, sangue que jorra do olhar.
O homem vai, a que chora levanta-se.
Tomba para o lado, embriagou-se com o odor do seu amar.
Vede que ela traz ao peito uma pedra de gelo, o coração entregou-os aos pombos.
Já não chora, chorar seria resposta ao que lhe perguntaram.
Deixem-na estar, ela com o tempo destilará a raiva, a angústia.
Escrevo sobre ela, enquanto a vejo dançar seminua por entre o jardim.
Será o fim de quem ama?
Não pretendo aquele fim, também não tenho motivos para o pensar.
Olho a pobre alma, olhai também tu.
Vede como ela se atira à noite, fornica que nem uma louca com o lampião que lhe acende a lamparina.
Já ela tinha mexido e remexido o cú do banco onde caiu, encontrou um beijo esquecido.
Tira-lo agora do bolso.
Entrega-mo dizendo: Sê feliz, tu que me observas.
Não deixes que te envenenem, é tudo injúrias.
Guarda este beijo, tira-o quando tiveres só.
Cola-o em tua boca e saberás que o teu amor em ti pensa.
A alma que pobre já não é, saiu lentamente.
Deixou um rasto de dor a arder no chão.
Lambo esse rasto, os meus lábios explodem, coloco o beijo.
De ora em diante sei que pensas em mim.
E a alma, a alma sempre presente estará.
A chorar para todos lembrarmo-nos que por detrás de um grande amor há a loucura de ser infeliz.

06 Julho 22h50

Para uma amiga

terça-feira, 1 de julho de 2008

O espelho devolve-me uma imagem baça.
Limpo energeticamente, continua igual. Que é feito de ti?
Andas cansado, abatido.
Olha para ti, não te vês. Porque será, já pensaste?
Nem o espelho te quer mostrar a figura que carregas.
O teu corpo arrasta-se, deixa um rasto de pensamentos mórbidos.
Não te reconheço nesse pesado andar.
Vejo-te no alto do prédio, atiras o espelho.
Cacos reflectem o grito que queres soltar.
Acenas-me, estás a roer mais um cigarro.
Vou ter contigo, estás nu.
Não me refiro à nudez corporal.
Habituaste-nos a uma linguagem corporal em que sonetos gritavam aos nossos ouvidos.
Vejo-te sem rosto, coloca uma máscara.
Não importa o quê.
Não suporto ver-te assim.
Anda, levar-te-ei ao jardim, conversaremos com os grilos que tocarão um nocturno de Chopin.
Não teimes em não vir, o que importa o que os outros vão pensar?
Tu já sem rosto estás.
Ninguém notará que trazes um adorno na face.
Liberta essa alma, sê tu mesmo que isso custe.
Olha para o espelho com o olhar que nunca tiveste coragem de ter.
Vê que há alguém que te ama, não querendo saber se te vês ou não.
Acorda desse estado, corre.
Vai em busca do que te fará mudar.
Atira-te ao mundo e deixa que ele te ampare em seus braços.
Volta para junto daquele que te deseja, e só depois vê-te ao espelho.
Verás que a imagem esteve sempre lá, bastava que abrisses os olhos.


01 Junho 23h04
Asas, para que as quero?
Não sei voar, ando bem devagar. Neste mundo de passagem estou.
Obrigado a quem as me quer dar.
Não são precisas, com as mãos levanto voo aquando a alma o entende, os meus olhos levam-me a horizontes belos e distantes.
De que preciso eu?
De asas não será certamente, a liberdade encontra-se fechada numa mão que a estrangula.
Não seria o acto de penetrar o imenso céu e as nuvens que me iriam fazer sentir liberto de algo a que não estou preso.
Prisão?
Todos nós estamos encurralados numa masmorra, seja ela qual for.
Do forro sentimental, sexual, profissional não importa.
Não a sentimos quando devemos sentir.
Quando os dedos folgam um pouco, e escapamos por entre as gretas que os adornam o corpo que carregamos sente-se confuso.
Inerte o cérebro comanda que voltemos.
Pincelo de verde esperança as grades que me separam do mundo exterior.
Há uma nesga de saudade do tempo em que berrava por um biberão de leite, tempo que não volta.
Sofrer, não sofro, não sei o que é ser livre.
Saberá por ventura algum ser o que essa palavra significa?
Todavia enchemos a boca afirmando que não vivemos enjaulados uns nos outros.
A liberdade termina onde a do vizinho começa.
Poderia ser o tema de uma crónica, eu direi que se trata de uma mera falsidade que a boca dá ao pensar quando este não tem mais em que meditar.
Eu dou-te as asas que me ofereceram, sê tu livre na imensa ignorância de pensares que um dia voarás por entre os trigos doirados.
Beija a lágrima que deito, guarda-a em tua boca.
Poderei não ser livre na quantidade e forma da expressão que escrevo, mas serei mais livre pensando que estou preso a uma mera máscara que cairá quando a noite chegar.

01 Julho 0h38