quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Annie Lennox-The Hurting Time



Legião de vozes que batucam tal qual um martelo.
Divagam no que chamam de lar, cérebro, não são mais do que pensamentos que se entrelaçam nos subúrbios do meditar.
Organizá-los consoante a demência daria muito trabalho, não haveria contra peso e medida, alguns perder-se-iam nas malhas de um passador inexperiente.
Hábito de costume, nem os sinto ou ouço muitas vezes, insistem e fecham-me a visão, aí voo por entre as palavras, dialectos que possam usar.
Que me importa o que pensem, não saberão entender o que vai cá dentro.
Louco não estou, como poderia ser algo que já sou?
Shiu, adormeceram, paz, alívio...

06 Dezembro 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Maria Bethânia - Tenha calma



Tento manter a calma, disparos de sentir, amargura, como que numa roleta russa nunca se sabe quando vai sair a cor que escolhemos.
Morro na estrada, não chego a esquartejar as palavras em gumes, rolam no asfalto em cru.
Saberão porventura que ser humano é sentir em duplicado o que outros não sentem?
Que falta faz a paz que se avista ao longe, espinhos rompem do nada, nem chego a senti-los.
Por vezes vem um bálsamo, refresca o esquecimento, ludibria o sentir que se sente cansado de tanto se mostrar.
Bem que quis, esqueci o que quis. Rasgos de memórias, estado de lucidez estrangulado entre olhares e bofetadas que o vento me trouxe.
O desejo, esse vive só, quis partir, implorei que não me deixasse.
Venham até mim, me elevem num pedestal sem suporte, não quero ser Rei nem senhor de quimeras. Imperador de uma terra de ninguém, tanto faz que seja no vazio que choro os acordes de um fado.
Descai o pano sobre mim, tudo se apaga , estou no céu? Que importa se silêncio, harmonia e tudo o que quis manter se vem chegando...

24 Novembro 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Nocturno - Chopin

Vagueia um homem sem rosto, folhas que o encobrem. A noite desmaia a cada passo que dá, não há sons, cheiros.

Imparcialidade dos transeuntes, inexistência de um cumprimento.

Quem és homem sem rosto?

Que trazes em teu coração, porque vagueias no soturno da noite?

Olha para mim, estou aqui, sim.

Não vás, deixa que te estude, te faça falar.

Também eu o rosto há muito perdi, aliás perdi-me em ruas e vielas, oblíquas, outras circulares, sei lá.

Bem sei que não pensas, tal como eu pensara em tempos, quimeras e futuros lambidos por uma vidente.

Deixa que te acompanhe, prometo não falar, serei a tua sombra.

Onde estás homem sem rosto?

Que fazes tu atrás de mim?

Serei eu a tua sombra e não tu a minha...

08 Novembro 2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Marisa Monte//Bem que se quis

Tenho fome de infinito, sede de estrelas, de penetrar o buraco negro.

Chora a rameira, lágrimas que são orvalho em minhas mãos. Vento que abana o meu corpo, teimosia da mão que não larga o luar.

Difícil vencer o derrotista, tango que se desenrola sob os pés.

Que fado carrego nos lábios gretados e marmorizados por um toque. Espiral de emoções, carrossel do desejo.

Alguém que me liberte, arranque os grilhões que me ferem a alma.

Ardósia que colocaram no céu, lá escrevo a dor, não são estrelas, talvez enigmas.

Aterro em pernas do amor, eleva-me a loucura, deixo-me estar...

05 Novembro 2010

domingo, 19 de setembro de 2010

Annie Lennox - Why?




Teus olhos cor de chuva, puxam-me para a imensidão que os cerca.

Lânguida é a forma que tornam, abraçam e observem as minhas palavras.

Entretenho-me a desvendar enigmas encriptados, distraio-me em teus lábios, sorrir adocicado. Sou manteiga em teu corpo, fogo que explode com teu silêncio.

Intemporal torna-se o espaço, sacio-me em tuas mãos, defines o meu corpo, moldas a minha loucura.

É nesses olhos de chuva que me banho e me deleito com o que dizem ser amor...

16 Setembro 2010

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Ella Fitzgerald - Summertime

A luz que o candeeiro reflecte, pisca como que num código morse. A penumbra já não mata em pequenas porções o tempo. Os ponteiros lutam, descai o dia sob meus olhos, pensamento que te procura.

O cheiro que te aspira num atchim, erguem-se as paredes num todo, toco o betão, estás aí, eu sei. Estás entre tijolos, quero partir as vigas, parte-se o beijo que entre as gretas te dou.

Uma mão, grande, bate-me. Afasta-me do doce, da gula, que pecado tão feio.

Armam-me em poeta de rua, esperam que declame as pedras, as melancias que rolam do corpo da duquesa. As palavras não mentem, menos os dedos, de jorrada divirto o bobo, tomates me atiram.

Saio do palco, a mão tranca-me na cela, a luz que pisca, a ratazana que ri, estando nu crucifico-me na parede.

Palavras que se alojam em mim, anos vindouros será o louco que com as palavras fornicou, quando teu corpo a um toque estava...

13 Setembro 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

miss you like crazy / Natalie Cole

O sol abraça o dia, sufoca-o, lentamente vai falecendo. A noite vai subindo, rasga o céu, jorra leves traços de laranja, rosa, pigmentação que confude os olhos que observam.

Confunde-se um abraço, aperto no coração. Levanta-se o corpo só, lágrimas que permanecem vincadas no rosto.

A cegonha que faz o ninho no fim/início de um precipício, o corpo cai por entre os grãos que se amontoam sobre os pés.

Labareda de dor, queima a alma, destroi o que a mente vai rolando sob um olhar atento.

Não vem a mão aconchegar o peito que arfa, moridela de lábio. Verte-se sangue, quais lágrimas de D. Inês, manto de carmim sob a imensidão da dor.

Prende-se nos dedos o aroma da saudade, eterno sentir que se abateu sobre a criança em corpo de adulto.

Desfolhar do corpo, que importa os que por ali passam, nada vêm a não ser um louco. Salga-se a pele na água, conserva-se as lágrimas que rasgam a face, abre-se o coração.

Lá longe vem um peixe, morde o conteúdo do ser, um ai que acorda a mente, o pesadelo regressou.

Solidão que se senta, a lua que no céu germinou embala os amantes há muito que amou.

03 Setembro 2010

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

sábado, 28 de agosto de 2010

Arde a lua num manto negro, cruzamento de vozes.
Intervalos de alguma fúria transformam-se em chuva que dilacera o corpo.
Calor que invade o chão, lambem os sapatos o chão amargurado.
Acabo sozinho, beco escuro que me abraça.
Beijos que são meros bafos, boca seca...
Picadas nas órbitas, o exíguo espaço absorve a alma, curtos raios de um luar que desmaia entre as brechas do ser. Junção do universo, afastamento dos sentidos.
Escreve-se um soneto, curtas e medidas palavras.
Arrasta-se o ponto final, a noite atinge o clímax, o ser desaparece.
27 Agosto 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Contrai-se o ai solta-se o suspiro.
Nos intervalos de lucidez descai a solidão, arguta, outras vezes manhosa.
Sentir agoniante, labareda que incendeia o cérebro. Corpo inerte perdeu a vontade numa altura que esqueceu. Não saem lágrimas, seriam fingidas e lambidos pelo luar que desce em leves fios.
Corpo abandonado, inanimado. Não há mãos que o tragam de volta, somente os olhos observam.
O falar faleceu, enterrado entre baforadas de um cigarro mal apagado. Não quero flores, tragam diálogos, sons.
Solidão trago espetada no peito, dependurada num prego já oxidado. Não serei mostruário, retirar-me-ei algures entre a surdez e o biombo dos que se despem de conversas...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Noite tranquila, peso que aglomera entre o peito. Fardo que do nada veio e em mim se deitou, não chorarei, lágrimas não se deitam em vão.
Vazio, talvez não poderei afirmar o que não sei. Tento apagar o cigarro que luta, ri-se de mim e para mim.
Olho a noite, despida e gaseificada pelos que deambulam em pensamentos irrisórios e quem sabe tão fluentes quanto as palavras que tento escrever.
Imóvel, tento cegar o vaivém de emoções, saltam da pele como quem se depila.
Não sei que fazer, em papel iria transbordar os demais que me lêem.
Não quero incomodar, deixai-vos estar.
São estados de um poeta que tem necessidade de sentir as emoções, procura-as e depois castiga-as por se terem apoderado do seu corpo.
Noite tranquila, atormenta o corpo que se esconde entre uma penumbra.
Restos de um corte que alguém se ajeitou a fazer, não foi propositado nem calculado.
A vida tem destas andanças, teima em brincar com os seres.
Ai de quem diga que nunca se sentiu uma parte do buraco negro que habita o universo, uma parte de mim lá se encontra.
A outra arde no inferno do prazer, explode, queima o que rodeia.
Não quero esta noite tranquila, despejo-a num cinzeiro lambido pelas palavras que nele se deitaram.
Venha o tormento de noites frias, ao menos saberei colocar a manta.
21 Junho 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Não poderás saber o que sei, o que disse, o que direi, seria desfolhar as palavras que estão trancadas.
Não terias sensibilidade, virilidade e até mesmo calor para as entender.
A melancolia que trago está disfarçada de um alegre sorriso que teima em se pendurar nuns dentes que ao longe choram, gemem por mais...
Os olhos que vêm não são mais que opacos espelhos, visão distorcida de algo que vai cá dentro.
Não poderia arrancar e deitar ao vento, perder-se-ia algo grandioso e quem sabe precioso.
Que queres que eu diga?
Nada poderá afirmar, nem na sua forma de hipotética.
O corpo esgueira-se por entre as vicissitudes da vida, baila com o sentir e o desejo. Queima por dentro o pavio que se elevou, o rosário que conto não passará de mudos sons.
Quis eu prolongar o amanhã, mas o hoje ainda não terminou.
Gula do desconhecido, insatisfação do saber e desejar.
Não quererás que te diga o que sei, cá dentro o mar se revoltou e a terra abrandou.
15 Junho 2010

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Arde em mim uma centelha de calor, ardor, durão que se instalou algures no hemisfério norte do corpo.
Será no Equador?
Tanto faz, onde seja, vai e vem como um pêndulo que se dá um toque e só pára quando a lei da física o entender.
Vergonha contida entre um biombo, corpo que desenha no ar gulosos movimentos carnais. Não há espectador, sorriso que se parte em dois.
Lágrima cai no soalho, estrondo que se ouve.
Ninguém acode, que importa?
Nunca ninguém saberá entender, a vida tem destas ironias.
Lânguido é o momento em que o corpo se endireita, permanece no ar o cheiro de algo que poderia ter acontecido.
Timidez há muito que se perdeu na cama, enrolou-se entre beijos e abraços.
Deslizar de gueixa, arrasta-se um perfume, único e sensual.
Sensualidade atrás de lençóis que agora parecem ondas de um mar turbulento.
Treme o corpo, o universo em sintonia. Explosão de estrelas circundam o tecto, vê-se ao longe um cometa. Corpo que se estica, extenuante, expectante por mais e mais.
Sobra a saudade e vontade que cavaqueiam enquanto as mãos tapam a face.
Palavras assanhadas saem da boca, qual gata em pânico, embatem na parede e caem sobre o colo. Colo vazio, sem viva alma para aninhar.
Leve sono se aninha ao lado, lugar esse que deveria ser ocupado por um cigarro.
Fecha-se o biombo, o espectáculo nunca começou, afastem-se os voyeurs.
Reina e impera a ansiedade do que não se teve.
10 Junho 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

A chuva cai a jorros por detrás da parede que me separa do mundo real, poderá ser imaginação da minha mente.
Quem sabe, não a julgo como um filme que é colocado a rolar numa tômbola.
Mais facilmente serei eu colocado a girar em torno dos meus pensamentos, inquietudes corporais que de virginais nada se poderão chamar.
Bate com força no chão, riposta contra o ar, ouço o seu gemer aquando entrada nas frestas das casas.
Transeuntes não os há, também não os vejo.
Ponho-me a adivinhar o que outros como eu estarão a pensar, a fazer.
Tolices de uma mente que não tem mais em que pensar, até terá mas o caudal de situações inoportunas estagnou.
A mente vagueia entre as frestas da chuva, dois corpos que se colam. Nus entre a brisa que os envolve, não acalma o fogo que arde de dentro para fora.
Ergue-se uma ponte entre ambos, tentam os dois passear, atravessar pé ante pé.
Caem os dois no vazio que os separa, nem a tesão que tanto os incomodou consegue aguentar o corte transversal que alguém teima em desenhar.
Bate a chuva, batem os olhos que teimam em descair a cada palavra que é esmagada na folha de papel.
Teimosia, talvez insistência do que escreve.
Venha mais chuva, mais calor, mais corpos desnudos.
A mente continua a rolar na tômbola, o corpo adormece entre um espasmo.
Rebenta o caudal, transborda o dique que foi colocado entre as partes mais íntimas do cérebro.
A água que correr agora é outra, são lágrimas de prazer pelo facto de o ser do mundo se ter abstraído e ter escrito palavras quentes e viscosas enquanto a noite era banhada por algo que poderá ter sido imaginário ou tão real como a saudade que o que escreve sente.
08 Junho 2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Do corpo saem ervas, raízes que se estendem e provocam o solo.
O tempo pousou algures entre a mão estendida e a lágrima que rolou.
Não rego a íntima parte, para quê?
Se o tempo se levantar e embora for, nada me restará a não ser saudade, que se contorce e adormece em meu peito.
Quem aguenta sóbrio com tamanha secura?
De vastidão de censura, ansiedade, misturada com vontade.
Quis o desejo que te apartasses, navegasses quimeras distantes.
Esconde-se a inquietude, assanha-se o pudor.
Enraizado está o esqueleto do que outrora esperou.
Todavia, não esmoreceu o ramo que floresce, talvez me deixe ficar.
Partir não poderei, que voe na lua que me acena o corpo nu que lá longe larguei. Raiz de mim será, quando e somente me libertares do tempo que se esqueceu.

18/05/2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Da boca, saem orgasmos, espasmos que descontrolados surgem sem razão. O corpo desnudo, tapa-se com o luar que desce em jeito de desfile sobre a nudez que se avista. Será prazer? Talvez não se a alma sente tristeza, leves pesares. Cândida poderá ser a forma como a mão leva o lenço aos olhos, a boca de vez em quando espirra mais um clímax. Insensato, escandaloso talvez, o corpo tem destes despropósitos. Choro que vem de mansinho, brinda a imensidão do vazio que ronda o exíguo e frio espaço. Quem dera o ser abrir as entranhas, expor o que quer dizer. Dizê-lo em surdina, não adianta. Não sobrevive o eco que tenta chegar o mais longe que pode. Dor, tristeza, sofridão, como se poderá definir? Nem a própria tristeza se sabe definir, dor pode ser aguda, cortante e latejante, sofri dão não é visível mas bate no fundo dos olhos. Corpo que se deixa cair, boca que termina de jorrar o insólito. Fecha-se os olhos, infinito circunda. Roda gigante de adjectivos e sentimentos, longe vai a vontade de ser o que quer que seja. Beijo que se solta, envolve-se na boca. Um orgasmo não saiu, somente a dor pela vida que se tem.
06/05/10

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A uma amiga

Cortam as amarras, deixam os grilhões presos num fino fio.
Andar pesado, estonteante, a cada instante será o último e eterno espaçar numa escadaria que se julgava duradoura.
A noite descai aos pés, banha o ventre que chora convulsamente.
Lágrimas salpicam as diversas mãos que se estendem, não vale a pena, o final poderá estar próximo.
Asas de anjos circundam o corpo que tenta elevar-se, cai e torna a tombar.
Estagna no frio chão, humidade cortante. Invade a alma, o coração.
Desespero angustiante, ferido o coração bate em pequenos compassos.
Talvez um beijo de despedida, não se sabe o que fazer.
A mente bloqueia numa fracção de segundo, deixa ir.
A barca aproxima-se, poderá ser ilusão óptica.
Queremos julgar que sim, não se sabe.
Daremos a moeda ao barqueiro, com sorte apartar-se-á para bem longe.
Seremos o rio que transportará as lembranças e angústias que virão.
Numa quimera passada, éramos a corte que assistia às palavras que jorravam.
Com um mata-borrão, estancaremos a dor, saudade essa não se poderá apagar.
Reinará em nossos olhares e corações.
A partida poderá estar longe, os grilhões deixam de roçar no chão.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Num minuto comete-se a maior loucura, o pecado sem retorno.
Amar durará certamente mais que um segundo, uma eternidade para além do que o relógio pode suportar.
Desenha-se no ar uma sombra, um gemer, um entardecer de corpo suado.
Tudo se evapora, sai com um gesto.
O corpo quer expulsar o sentir, contorce-se e enrola-se em posição de feto.
Choro a metro, ligam o coração ao desejo de pensar sequer em amar, ter em sua boca o doce néctar de um beijo.
Quão obtusa é a vontade do ser, corte transversal numa palavra que se solta.
O amor, desejo?
Não retornam, descai o pendurico que se transporta. Que importam o que pensam, a vontade que se sente ultrapassa limites impostos.
Quem desenhou a linha fronteiriça que distingue o pecado do correcto?
Não se pretende saber, o que cá vai é tão grande que numa mão transbordaria em cascata.
Banho de luar, lânguida é a forma como o corpo retoma na cama que o sustenta.
Num minuto, não importa qual tudo se transforma.
Abraço dos que despem a máscara, a pele. Fardo pesado, acto contínuo.
Correr e ser puta, preencher o vazio nos braços do que se ama.
Puta, porque não?
Existe uma em todos nós, lá vem o conceito de bom senso, hipocrisia dos demais.
Liberdade nem os pássaros a têm, voam muitas vezes para a gaiola que alguém criou.
Fénix que renasceu, de novo os céus ergueu.
Apesar do minuto voar tal qual o pássaro, não se desiste de amar mesmo sabendo que no segundo a seguir as algemas que nos colocaram se apertarão...
27 Abril 2010

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Aparta-se de mim uma sombra, leve frio que percorre cada poro do corpo. Com um simples gesto tento afastar esse sentir, não vai, teima em percorrer-me, deixa-me atordoado, talvez exausto não o sei ao certo.
Perdi a noção do tempo e espaço, seja ele temporal ou físico. Se me falam, não o sei dizer, sei que mexem o maxilar e articulam gestos secos, quase que repetidos, outros partidos pela ignorância e falta de inteligência de quem os diz.
Sentido crítico, malvadez, podereis dizer. Que me importa, que o digam, estou para além do que possais imaginar.
A sombra envolve-se em mim, quase que poderíamos fazer amor eternamente. Ninguém notaria, estão todos absortos em fingir que estão a realizar uma tarefa importante, como são tolos, fúteis.
Ver além do que mostram é um dom, um passo e mágica em que do nada despimos as pessoas.
Não é nudez, pelo menos no sentido lato que quereis dar. Pecadores de mentes, também o sei ser, oh se sei ser admito.
Pequeno aparte, remetemo-nos para a nudez, nudez de espírito.
Nestes momentos em que me deixo ir nestes caminhos do pensamento, poderia deixar o meu corpo onde me encontro e divagar entre o mundo.

Desperto com o cair de uma caneta, alguém que fala mais alto. Todos querem a atenção, a popularidade, a medalha.
No final do dia, levam o vazio que as acompanha. O mesmo vazio que trouxeram quando aqui chegaram, sentem-se contentes, por vezes reis e rainhas de reinados inventados somente nas mentes deles.

A sombra vai se esfumando, espiral que se enrola no chão. Tenta sobreviver, o frio que a banha, a luz que a incomoda. Olho a meu redor, não estou só mas sinto que estou.
Faz-me bem pensar que sim, leve e solto entre palavras aglomeradas na minha boca que saltam para as mãos.
Despejar parte delas em papel faz com que me eleve a um nível do jogo que muitos não atingirão.
Desço à terra, aterro no meio de processos e papelada. Céu e inferno num só termo, visto a fatiota de trabalhador. Espreito a rua que se movimenta em sentidos opostos, azáfama constante.
Frenesim de pessoas atabalhoadas pelo stress que fingem ter, sorriso que se impõe em minha boca.
Fecha-se a página deste capítulo, maçudo ou não, dir-me-á quem lê.
Não me importarei se for aborrecido, redundante, piegas, soube bem…

terça-feira, 23 de março de 2010

O meu corpo é uma mentira constante, um desalinho cosido em dia não.
Pano desejado por mãos, olhares que o querem pousar. Ter numa mesa, até numa janela indiscreta.
Rasguem, desfaçam em fios. Os poros libertam a goma, enruga-se a ponta.
Está bordado a ouro, a paixão, tesão que outrora foi vincada.
Ilusão de ser o mais tocado, o que poliu e um brilho fez sair do corpo morto que se ergueu.
Mentira, resultado das várias luas que se despem.
Palavras que te quereria mostrar, este pano esconde-se entre uma vontade secreta.
Corpo coberto de mentira, salpicos de vaidade.
Não seremos todos uma mentira elaborada?
Panos pequenos perante o desejo, a vontade de tudo explorar.
Ser a acompanhante de luxo que despe o corpo, mostra somente a carne escolhida entre risos e apalpões.
Sou a mentira dos que julgam ser a verdade.
Que seja, o meu corpo jamais mentirá, somente se disser que não te amo.


23 Mar. 10

segunda-feira, 8 de março de 2010

Barulhos, parece picadas na audição.
Corpo que quer sossego, paz, ir além do que permitem.
Desejo de manifestar a tesão crescente, erguer o sexo.
Sacudi-lo, fazer chover prazer...
Loucura, ala dos dementes o esperaria.
Que importa o desejo, a vontade é cortada por uma faca de dois gumes.
Desfaz-se tudo num cigarro: dor, tesão e insanidade.
02 Março 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Boca que beijos jorrou, um pássaro lá poisou e bebericou.
Caiu a sede por terra, fez-se a vontade do desejo.
A alma, o coração, num todo tomou. Arrebatou o corpo inerte, boca que dela jorrou tanto amor, indecências.
Do dia fez-se a noite, um campo de luar o corpo vestiu.
Pássaro, voou.
Bater do chão se dissipou, da boca saíram lamentos.
Não injurias, amar será pecar e perdoar o vazio que se espeta no coração.
Talvez a loucura, o não saber estar só, tenha tomado conta do ser.
Corpo de murmúrios.
Quais ninfas, estava presente o escárnio e mal dizer dos que não amam, dos que não fizeram amor com o cupido.
Alguém esculpiu mais tarde, mão humana não terá sido, o corpo marmorizado, oxidado pela eterna saudade do pássaro.
Uma fonte se tornou, poetas e poetisas enfeitiçou.
Dos poemas, dor, tesão, alegria, solidão fez sua companhia.
O pássaro, meio perdido pelo esquecimento de tais beijos, à fonte tornou.
A água bebericou, naquele instante soube que iria morrer.
A fonte havia secado, o sol sugara e queimara o alento.
O pássaro, na boca poisou e eternamente o amor perpetuou.
18 Fevereiro 2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Jaz folhas onde estou, caíram sem dor da árvore que as viu nascer.
Nudez que se expõe acima da minha cabeça. Acaricio ao de leve o tronco, áspero, ardente, queimado por um sol que à muito foi dormir.
Não sei onde poderei estar, não importa o espaço e tempo.
Anseio, algo que não poderei descrever.
Recordações, momentos, fugazes espreitam na minha mente. Tento agarrar um, caem ao de leve de meus olhos.
Não será tristeza no sentido que lhe poderíamos dar. Saudade talvez, eterna e somente saudade.
Consigo agarrar um beijo, coloco em meus lábios. Tremo, estremeço, enlouqueço.
O ser humano contenta-se com tão pouco, hábito adquirido, talvez exigido pelas intempéries das vida.
Sacio o desejo, que importa como?
Banha-me um luar lânguido, acompanho-o com um cigarro. Envolvem-se ambos, olho além horizonte.
Coloco o tarôt diante de mim, vidente não sou.
Também não desejo o futuro, o presente é por vezes angustiante. Outras cheias de violentos espasmos, suor que cola dois corpos.
Deito-me, deixo-me guiar por uma asa que veio brincar comigo.
Choro avulso, mais não escrevo.
Vou descansar tal qual as folhas que me acompanham.
14 Fevereiro 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Doce amargo, levo na boca.
Corpo desnudo, coberto pela fina penugem de geada inocente.
Olhar que vislumbra, sofridão por a mão não poder tocar.
Contorce-se o gemido, risinhos virginais.
O pecado cobre a face, a puta palra um ditado: dá um pouco de ti, entrega-te envolto em seda.
Quando te desfolharem, verão quanto de ti pode sair.
Cruzam-se pudores, dissabores.
Cai um ai, acto que se consumou.
Brincadeiras de mãos, a noite fechou.
Beijo talhado e adocicado, suga um adeus.
Antes do adeus, nu estava.
Após o adeus, somente a lágrima do que a noite levou.
04 Fevereiro 2010
Planificaram-me, fizeram-me do barro.
Alma, alguém se enganou e a trocou. Trocistas me delinearam, imposição da inquetude.
Caio e torno a tombar, revestiram-me de aço.
Não quero outra alma é verdade, inadaptação, talvez rejeição.
Não saberia viver de outra forma.
Lágrimas secaram, que adianta esquartejar o infinito se me tornei num buraco negro.
Condição de ser, sinto-me feliz.
Mas o ser não basta, há que lutar e beijar a paz que se avista.
Fizeram-me do barro, quando na verdade sou de porcelana.
26 Janeiro 2010

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Rasgos de pensamentos, brotam como cogumelos.
Dançam e brincam entre os espaços vazios do meu cérebro.
Corpo que quebra impotente, calma profunda, estado Zen.
Memórias ensanguentadas, cobrem tudo.
Fechar de olhos, dormência abstracta.
Emito sons, mudos, outros ocos que são prependiculares a um vazio.
Acordo no nada, peso que suporto.
Que é de mim?
Diluído nas gotas da chuva, arrasto-me no infinito.
Onde vais? - Perguntam-me num tom ordinário.
Sei lá, sei que vou onde tiver que ir, embora saiba que o retorno de mim não mais voltará.
15 de Janeiro de 2010

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Pensamento vago, escorre entre as frestas de uma goteira.
Plin, plin, plin.
Corpo que se contorce, solta-se um ai. Acende e apaga a luz, visões nocturnas.
Sai do armário um hálito quente, toca o corpo.
Sente-se a diversão afiar a língua, acto contínuo de prazer.
Todavia, rompe-se o fio condutor de um sonho.
Manjar de excitação, términus num acto solitário.
Tal qual o de uma puta, tanto prazer experimentou.
Nenhum a alma lhe tocou.
Jorrar de água na janela, a noite que brotou devagar entre lençóis.
O luar que cheira a jasmim, nárcisos.
Pecado com sabor a solidão, drama que compõe um soneto.
Atirado janela fora, agarra-o. A maldita puta que tem como fado despir e fazer sair o prazer da solidão.
Sendo ela a mais só dos seres...
06 Janeiro de 2010
Ausência de mim, pensamento que aperta o esgueirar de mais um amanhecer.
Longos são os braços que me tocam, inquetitude demorada. Talvez pausada, carente de um espreguiçar.
Apartai-vos vós que pecais, não querendo injúrias, maus agoiros esqueço o que já esqueci.
Quem me dera, ser a chuva que lambe o céu e rasga o céu.
Dor que se sente, paz que invade.
Horas mortas batem no relógio, acto contínuo de ver a vida desfilar.
Anoréctica, parca quando deveria ser farta de prazeres.
Castigo à carne, não pensa mas teima em filosofar em bocas tão desertas de calor.
Onde estou? Não sei que fazer, mudaram o cenário, o elenco.
Nada se fará, deixai que anoiteça e aí gemer-se-á de loucura pela máscara que caiu e o corpo que se abriu.
31 Dezembro de 2009
Quem és?
Tu que me olhas do outro lado da janela, teu rosto meio triste, olhos bem abertos.
Que queres de mim?
Deixai-me estar, não vês que carrego a dor.
Não sorris, não falas.
Olhas-me somente, olhar meio perdido no nada.
Silêncio que impera, vontade de te bater.
Vem daí, conta-me que te vai na alma.
Mantens-te nesse olhar, deixo-te estar. As tuas pupilas dilatam-se, que pensas?
Uma lágrima corre, segue livre em direcção ao abismo de morrer no chão.
Penumbra que nos ilumina, mexes os lábios; pergunto mais uma vez quem és?.
Ao que respondes: Eu sou tu!
21 Novembro de 2009