quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Boca que beijos jorrou, um pássaro lá poisou e bebericou.
Caiu a sede por terra, fez-se a vontade do desejo.
A alma, o coração, num todo tomou. Arrebatou o corpo inerte, boca que dela jorrou tanto amor, indecências.
Do dia fez-se a noite, um campo de luar o corpo vestiu.
Pássaro, voou.
Bater do chão se dissipou, da boca saíram lamentos.
Não injurias, amar será pecar e perdoar o vazio que se espeta no coração.
Talvez a loucura, o não saber estar só, tenha tomado conta do ser.
Corpo de murmúrios.
Quais ninfas, estava presente o escárnio e mal dizer dos que não amam, dos que não fizeram amor com o cupido.
Alguém esculpiu mais tarde, mão humana não terá sido, o corpo marmorizado, oxidado pela eterna saudade do pássaro.
Uma fonte se tornou, poetas e poetisas enfeitiçou.
Dos poemas, dor, tesão, alegria, solidão fez sua companhia.
O pássaro, meio perdido pelo esquecimento de tais beijos, à fonte tornou.
A água bebericou, naquele instante soube que iria morrer.
A fonte havia secado, o sol sugara e queimara o alento.
O pássaro, na boca poisou e eternamente o amor perpetuou.
18 Fevereiro 2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Jaz folhas onde estou, caíram sem dor da árvore que as viu nascer.
Nudez que se expõe acima da minha cabeça. Acaricio ao de leve o tronco, áspero, ardente, queimado por um sol que à muito foi dormir.
Não sei onde poderei estar, não importa o espaço e tempo.
Anseio, algo que não poderei descrever.
Recordações, momentos, fugazes espreitam na minha mente. Tento agarrar um, caem ao de leve de meus olhos.
Não será tristeza no sentido que lhe poderíamos dar. Saudade talvez, eterna e somente saudade.
Consigo agarrar um beijo, coloco em meus lábios. Tremo, estremeço, enlouqueço.
O ser humano contenta-se com tão pouco, hábito adquirido, talvez exigido pelas intempéries das vida.
Sacio o desejo, que importa como?
Banha-me um luar lânguido, acompanho-o com um cigarro. Envolvem-se ambos, olho além horizonte.
Coloco o tarôt diante de mim, vidente não sou.
Também não desejo o futuro, o presente é por vezes angustiante. Outras cheias de violentos espasmos, suor que cola dois corpos.
Deito-me, deixo-me guiar por uma asa que veio brincar comigo.
Choro avulso, mais não escrevo.
Vou descansar tal qual as folhas que me acompanham.
14 Fevereiro 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Doce amargo, levo na boca.
Corpo desnudo, coberto pela fina penugem de geada inocente.
Olhar que vislumbra, sofridão por a mão não poder tocar.
Contorce-se o gemido, risinhos virginais.
O pecado cobre a face, a puta palra um ditado: dá um pouco de ti, entrega-te envolto em seda.
Quando te desfolharem, verão quanto de ti pode sair.
Cruzam-se pudores, dissabores.
Cai um ai, acto que se consumou.
Brincadeiras de mãos, a noite fechou.
Beijo talhado e adocicado, suga um adeus.
Antes do adeus, nu estava.
Após o adeus, somente a lágrima do que a noite levou.
04 Fevereiro 2010
Planificaram-me, fizeram-me do barro.
Alma, alguém se enganou e a trocou. Trocistas me delinearam, imposição da inquetude.
Caio e torno a tombar, revestiram-me de aço.
Não quero outra alma é verdade, inadaptação, talvez rejeição.
Não saberia viver de outra forma.
Lágrimas secaram, que adianta esquartejar o infinito se me tornei num buraco negro.
Condição de ser, sinto-me feliz.
Mas o ser não basta, há que lutar e beijar a paz que se avista.
Fizeram-me do barro, quando na verdade sou de porcelana.
26 Janeiro 2010