terça-feira, 30 de setembro de 2008

Estenda-se a toalha bordada na mesa do manjar.
Tocará o sino, corram.
Finos raios quebram a brancura, dão-lhe um toque sublime.
A mão que a tocará, dirá a verdade.
Quem não tem nada a dizer que se cale para o todo sempre.
Vem a criança esfomeada, reclama a união do cheiro que invade o soalho.
Não calem o inocente, coitadinho.
O chocalhar dos talheres será a banda que tocará.
Sento-me, estou só.
A brancura deu lugar ao vazio.
Já não penetram os raios de sol, agora é a mão nocturna que tacteia na lânguidez.
Toco o sino, mudo grunhe, tons que desconheço.
Puxo a toalha, curta e áspera.
Enxugo o soalho que derrama saudade.
Saudade do tempo que fora beijado. Mesmo por pesados pés.
Caminho até à janela, sacudo a toalha.
Deito fora os verbos que compõem este poema, recolho-me por entre a persiana.
Recolho a dor e estendo a reticência de te amar na cama que me irá abraçar.
29 Setembro 2008
A cigarra canta o silêncio nocturno.
Descanso sob o orvalho que vestiu as pedras da calçada.
Lânguidade distante, morna e sombria está a meus pés.
Não a quero hoje, prefiro o livre tacto.
Olho o vazio, vendo o poema que componho.
Lágrimas doei a outros olhos que por mim passaram.
Teço a linha imaginária, doem-me os dedos. Quem me mandou cavar na terra em busca de serenidade.
Chamam por mim, ignoro o chamar. Não estou nem para mim mesmo.
Silêncio pretendo.
Deixem-me ser os loucos que fingem.
27 Setembro 2008
Carta que escrevi, fado cantado.
Há tanto tempo que não bordo o linho que lençol da cama se tornará.
Lanço um olhar gaseificado pela saudade.
Olho o que te disse na terra do amor.
O cuco anuncia o recolher das almas.
Tantas ajudei hoje, estavam turvas pelo orvalho que as cegou.
Ensinei-as a amar tudo e nada.
A noite rasga o silêncio, balouço que me acalma.
Saudade em mim finda.
Análise crítica, o fumo que brinca na minha boca.
Sentido de perda de orientação, busco-te e não te sinto.
Ziguear de palavras, apenas te servirão para te dizer que a carta que te escrevi em meu corpo a guarda.
Suor, lágrimas, dor...
Sentir cândido e brejeiro da palavra amor.

10 Setembro 2008
Chão gretado, fede a saudade.
Espirais circulam no ar, todos se desviam.
Quão medo, têm do sentir.
Admito que há dias em que nos tornamos obtusos perante tal cheiro.
Não tenho vergonha de afirmar que me perfumo com tal essência.
Sempre que o chão chora, eu acompanho-o.
Sou a carpideira que de forma sublime vela pelo amor.
Também eu sou uma greta que brotou de teus olhos.
Vagueio sem ti, aguardo que me tapes o vazio.
Não me tomes como louco.
Se o fizeres, pensa que a maior loucura é-te amar.
08 Setembro 2008
Ando por aí, acolá, sem destino.
Vem a puta ter comigo - há quantas linhas não escrevia sobre ti - tenta vender os seus préstimos.
Não lhe dou ar da minha graça.
Continuo o passeio como quem toca um nocturno de Chopin.
Insistes em me seguir.
Respondo que não. ris-te, dizes que me sente a teu lado.
Queres que te ensine sobre o amor.
Como poderei eu ensinar tal sentimento a alguém que fornica com o dinheiro?
Ainda que te falasse do ardor que é o amor não entenderias.
Dizes-me que eu não entendo nada, que sei eu de sentimentos?
Digo-te que nada poderei saber talvez, mas ao contrário de ti tenho alguém que me ama.
Ris-te afirmando que todos aqueles que te deitas também te amam durante os minutos que contigo estão.
O luar desce sob nós, acendemos um cigarro.
Olha um cliente que te chama, vai com ele porque dinheiro não te irei pagar.
Olhas-me e choras, dizes que não.
Queres desabafar, por uma noite não queres ser o prazer de um alguém que nem o teu nome saberá.
Pedes-me uma Ode ao amor.
Agora sim gracejo te dou. Digo que uma Ode não te irei dar.
Cito-te uma frase escrita em tempos por mim:" O verdadeiro amor não é aquele que nos faz chorar no fim mas no início"
Nada e dizes, estás pálida - Que tens tu?
Não me respondes, lacrimejas.
Dou-te um lenço, agradeces.
Dizes-me que vendes o corpo em parte pelo prazer mas também pelo vazio de não teres quem te ame.
Perguntas quantas pessoas não se vendem por um afecto.
Não te respondo, vender-se-ão não recebendo dinheiro mas um beijo uma festa, etc.
Rematas com - Afinal quem é a puta?
Deixo-te enrolada em pensamentos.
Quanto a mim, volto ao meu lar pensando na saudade que me domina.
Adeus, puta, não a que se vende mas a que me inspira a escrever.
08 Setembro 2008
Até mim chega o soluçar de uma criança.
Abro a janela, vejo um pequenote com olhar carmim.
Ao ver-me foge, esconde-se na penumbra.
Canto uma canção de embalar. O inocente aproxima-se.
Sinto que me esmurram, vejo-me naquela criança.
Sentir transversal, obscuro.
A infância que rasguei fragmentou-se e ali apareceu.
Sinto o seu chorar em mim.
A penumbra que o acolhe dissipa-se.
Estou tonto, falar neste momento será como abrir o livro que já li.
Fecho a janela, enrosco-me a uma música que o rádio cospe.
Adormeço, pensamentos e sonhos à rua deitei.
08 Setembro 2008

domingo, 7 de setembro de 2008

À laia de soslaio, invade-me a insónia.
Com ela a vontade de escrever sem cessar.
Esgueiro-me até à rua.
Puxo de um cigarro, fumo o ar da noite.
Prazer infinito, eleva-me a um estado de paz.
Quebro a monotonia com a minha presença.
Que insensatez será esta?
Espertina que me acompanha.
Viva alma não vejo, nem o alcatrão me esperava.
Contorce-se, finge uma dor.
Mentira agradável, não ter que fingir o que queria ter.
Abençoo o galo que me canta.
- Olá bom dia.
Gargalhada que perdura - cinismo alegre.
Os olhos dos dedos que se fechem. Quero dormir.
Quem serei eu neste fantasiar de palavras?
A insanidade disfarçada de homem a quem a noite um beijo roubou.
07 de Setembro de 2008
Como podes amar-me?
Amar-me será um pecado, um veneno mortal!
Não te importa o que pensam as mentes vazias, bem sei.
Vê como suas línguas esquartejam o chão que andamos.
Como podes-me amar?
Sabes que por ti pérolas dei, múrmurios ao vento gritei.
Mandaram-me calar, meu corpo sossegar.
Tremi, confesso-te. Quis chorar, arrancar a roupa e em ti me afundar.
Lágrimas peneirei, o coração pesei.
Nu, na rua dancei.
Quiseram-me prender - está louco - disseram.
Nada importa.
Como podes tu me amar?
Se me estendo no soneto que te escrevi, um copo de vinho me encobrirá.
Como podes tu não me amar?
Se por ti montes e vales saltei, a morte enganei.
Como poderemos nós não nos amarmos?
Quem nos reprime, que se cale!
Se não sabeis o que é amar, como podereis vós não querer que outros se amem.
Se não sabeis amar, deixai que eu vos ensinarei.
Amor meu, retórica te coloquei.
Fecha os olhos e ama-me perguntando: Onde estavas quando não te encontrei?
7 de Setembro de 2008
Horas mortas, encurtam o leve passo.
Choro, a saudade cai abrupta.
Conto o que me seca a alma.
Formando um círculo cúbico, batem palmas.
Caio, afogo-me no meu próprio pensamento.
Que um raio afugente o pesado tic-tac.
Se gritar, irei acordar o silêncio.
Nestas horas, há o hábito de contar quantos fios de cabelos tem o luar.
Hoje, o amargo da saudade teima em me atormentar.
Não a pretendo afugentar.
Desejo-a em meus braços tomar, beijar e ao êxtase e à loucura a levar.
Mas somente hoje, e porquê hoje?, nem o pestanejar quer funcionar?
Ergo-me e piso as horas.
Já não quero pensar.
Deitar-me seria um desejo obsceno.
Tomarei a liberdade de acariciar a ponta do véu.
Véu que desce sob mim.
Cetim?, é provável.
Lembra-me o teu corpo num breve roçar.
Envolve as horas que matei, jamais terei que lamber o veneno que é não te ter aquando o relógio parar.
Sentido obtuso?
Qui ça, sendo o verbo amar dos mais irregulares que em meu corpo irá passar.
07 de Setembro de 2008
Bebo da vida. Porque não?
Se não o tenho em meu peito.
Oh!
Quanta saudade...
Que te importa que eu chore?
Vê, as mãos que te escrevem, tremem. Estão tolas, paranóicas.
O rosário à muito que desfiei.
Tomo mais um trago. Amargura se aloja na garganta.
Porque nasci Português?
Saudade não sentiria, a dor de te saber meu, quando a meu lado estás.
De que serve?
Renego a vida que se dá a beber.
Beberia o teu corpo...
Quanta melancolia, paro de tremer.
Diz-me que te beberei de um só trago.
Quando chegará esse dia?
Até que ele chegue, irei me embriagar na dor do ter e não ter.
03 de Setembro de 2008

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A luz que acendeu, o gato que se escondeu.
Resta somente o olho da bisbilhoteira que me vê.
Não quero que me veja, escondo-me atrás da palavra que deixei a meio.
Estrangulo mais um cigarro.
A boca reclama que o abre e fecha é demais.
Não faço um caso do caso que ela me diz.
Deixo-me envolver na inexistente brisa.
Lá vai um transeunte à fonte.
Leva com ele o garrafão do vinho.
Maldita embriaguez.
Sinto-me embriagado só com o gesto.
O toque do chão arrepia-me a pele.
A palavra já se perdeu no gemido que dei.
Pontapeei a vírgula. Não vou agarrá-la. Deixa-a estar, outra virá.
Dispo o fato de ser para me deitar na métrica do poema que queria fazer.
31 de Agosto de 2008
Ainda que soubesse, não teria o que afirmar.
Nada li, nada beijei, nada falei, nada...
Somente o nada.
Não tem o pensamento vontade de ocupar a languidade que o faz sonhar.
Tragam as plumas e as lantejoulas e façam-me vibrar.
Vê como estou sentado no desejo de o teu corpo abraçar.
Ainda que quisesse mentir, mentira em desejo se mostraria.
Não olhem para mim, não sou nada.
Somente nada.
Esqueçam as plumas, as lantejoulas.
O saber do amar quem amo me fará saciar o vapor, sim calor que destila na boca do que me manda calar.
Ainda que eu quisesse, não saberia como não te amar...
30 de Agosto de 2008