terça-feira, 1 de julho de 2008

O espelho devolve-me uma imagem baça.
Limpo energeticamente, continua igual. Que é feito de ti?
Andas cansado, abatido.
Olha para ti, não te vês. Porque será, já pensaste?
Nem o espelho te quer mostrar a figura que carregas.
O teu corpo arrasta-se, deixa um rasto de pensamentos mórbidos.
Não te reconheço nesse pesado andar.
Vejo-te no alto do prédio, atiras o espelho.
Cacos reflectem o grito que queres soltar.
Acenas-me, estás a roer mais um cigarro.
Vou ter contigo, estás nu.
Não me refiro à nudez corporal.
Habituaste-nos a uma linguagem corporal em que sonetos gritavam aos nossos ouvidos.
Vejo-te sem rosto, coloca uma máscara.
Não importa o quê.
Não suporto ver-te assim.
Anda, levar-te-ei ao jardim, conversaremos com os grilos que tocarão um nocturno de Chopin.
Não teimes em não vir, o que importa o que os outros vão pensar?
Tu já sem rosto estás.
Ninguém notará que trazes um adorno na face.
Liberta essa alma, sê tu mesmo que isso custe.
Olha para o espelho com o olhar que nunca tiveste coragem de ter.
Vê que há alguém que te ama, não querendo saber se te vês ou não.
Acorda desse estado, corre.
Vai em busca do que te fará mudar.
Atira-te ao mundo e deixa que ele te ampare em seus braços.
Volta para junto daquele que te deseja, e só depois vê-te ao espelho.
Verás que a imagem esteve sempre lá, bastava que abrisses os olhos.


01 Junho 23h04

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