quarta-feira, 28 de abril de 2010

A uma amiga

Cortam as amarras, deixam os grilhões presos num fino fio.
Andar pesado, estonteante, a cada instante será o último e eterno espaçar numa escadaria que se julgava duradoura.
A noite descai aos pés, banha o ventre que chora convulsamente.
Lágrimas salpicam as diversas mãos que se estendem, não vale a pena, o final poderá estar próximo.
Asas de anjos circundam o corpo que tenta elevar-se, cai e torna a tombar.
Estagna no frio chão, humidade cortante. Invade a alma, o coração.
Desespero angustiante, ferido o coração bate em pequenos compassos.
Talvez um beijo de despedida, não se sabe o que fazer.
A mente bloqueia numa fracção de segundo, deixa ir.
A barca aproxima-se, poderá ser ilusão óptica.
Queremos julgar que sim, não se sabe.
Daremos a moeda ao barqueiro, com sorte apartar-se-á para bem longe.
Seremos o rio que transportará as lembranças e angústias que virão.
Numa quimera passada, éramos a corte que assistia às palavras que jorravam.
Com um mata-borrão, estancaremos a dor, saudade essa não se poderá apagar.
Reinará em nossos olhares e corações.
A partida poderá estar longe, os grilhões deixam de roçar no chão.

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