segunda-feira, 7 de abril de 2008

O copo que se parte, a criança que chora.
Os vidros enfeitam as pedras da calçada que sacodem os cacos.
A criança que grita ao pedir um chupa.
O vento corta-me a respiração, vejo uma pedra cantar o fadinho da desgraçadinha.
Continuo sentado na poltrona do café, não é a brasileira do Pessoa.
Não me sento a um canto a escrever, isolo-me de tudo.
Tão fácil, encontro nas palavras o antídoto da saudade que me vai.
Saudade, tão nobre, tão amiga.
Nem os vidros sentem saudade do tempo que era um copo.
Abafo um cigarro na bica, estendendo o corpo na frase que escrevo.
Tento sorrir, mas estás longe.
Consola-me saber que pensas em mim.
Volto ao fado, coitada está esganada.
Não solta a alma, também não pode.
Alma não tem.
Corro pela via láctea, dançando o soneto da Florbela: "Deixa-me dizer-te os lindos versos que te fiz/São talhados a mármore/Trago-os em meus lábios ..."
Desço a realidade, torno o copo ao que era copo.
À criança faço uma festa, e à minha saudade convido-a a comigo tomar um chá.

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