segunda-feira, 7 de abril de 2008

Despeço-me de mim com um breve aceno.
Não quero ser a testemunha do crime que irei cometer.
Vou matar o desejo.
A navalha já afiei, o corpo de maus agoiros limpei.
Com destreza oculto o gemido.
Abafo-o com a tua voz, a navalha não pára de perfurar a vontade que teima em sair.
Passa um noctívago, é voyeur.
Vê-me matar o desejo, afugento-o.
Não quero presenças, apenas o meu e o odor que a noite larga.
Tanto desejo terei para retirar, não mais sou capaz.
Termino, deixo o que resta num soneto.
Pedi a um filósofo que o escrevesse.
Vou descer até ao infinito, levo o soneto que te entrego enrolado em suor, tesão e jasmim.
Recebe-o, vou-me.
Faz do meu corpo o que entenderes.
Não uses a navalha, utiliza antes um almofariz.
Usa depois como perfume.
Volto a dizer adeus, já não finto o desejo flutuo agora por entre os dedos que me chamam ...

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