segunda-feira, 7 de abril de 2008

Gritos abafados por uma lágrima que escorre.
Tornam-se secos, agoniantes. Consigo sentir a dor bater na janela.
Continua a angústia, torna-se aguda, divide o meu quarto em quatro.
Arrasto-me junto da janela.
Vislumbro uma figura agachada, rodeada pela saia rodada.
Soluça a negrura que ecoa da noite.
O candeeiro que a se mi-ilumina acende um cigarro.
Lança o fumo sobre o que julgo ser uma mulher.
A personagem ergue-se, lança para o alcatrão a dor que traz consigo.
Oiço-a contar ao gato que brinca com o esqueleto do que foi uma sardinha que o homem que amava não a encontrou.
Roda a saia sobre si, o gato coscuvilheiro, senta-se na ponta segurando o acepipe.
O candeeiro, já habituado a estas lamurias apaga-se deixando o ambiente soturno.
Continuo à janela, qual velha que tudo ouve: acordei com o grito, tudo pretendo saber.
A mulher diz que nas pedras procurou, a terra escavou, ao mar se entregou mas em nenhum encontrou.
Quer o homem que nunca amou, mas que sabe ser o tal.
Com ele fez amor, ao tocar-se na cama.
Ele é o maná que a faz viver.
Solto um ponto de interrogação que paira no ar. A mulher que vê, o gato que foge.
Sinto vergonha. Ela sorri dizendo, que o homem numa tela um dia pintou.
Com um beijo o fez nascer, com o sexo o fez homem.
Perdeu-o quando o não tratou, cuidou ...
Preparo mais um ponto de interrogação, o gato que me arranha.
Afasto-o de mim, quando para a rua me volto ...
A mulher se foi, deixando apenas a tela que pintou onde o meu amor desenhou ...

1 comentário:

Anónimo disse...

nao te sabia tao talentoso...de facto, há razões para continuares a escrever, abre a janela de tua e continua com o sonho, até que o sonho deixe de o ser e se torne realidade